O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto administrou pela primeira vez em Portugal uma terapia no tratamento do cancro do sangue assente na modificação genética de células, que supõe uma taxa de sucesso de 40%.
Em declarações à agência Lusa, citada pelo Expresso na quinta-feira, o diretor da Clínica de Onco-Hematologia, José Mário Mariz, explicou que esta terapia se aplica apenas a dois tipos de tumores – linfomas e leucemias – e em doentes cuja doença não está controlada, mesmo depois de submetidos a todas as terapêuticas convencionais.
O médico adiantou que, esgotando todas as possibilidades de tratamentos, esses doentes ficam sem opções e, “infelizmente”, com uma esperança média de vida de seis meses. Com a administração desta nova terapia, José Mário Mariz revelou que 40% desses doentes têm a doença controlada ao fim de dois anos.
“Não sendo excecional é bastante melhor do que o que tínhamos até agora. Há doentes em que a terapia vai falhar, infelizmente, mas cerca de 40% deles vão estar curados ou com a doença controlada ao fim de dois anos”, frisou.
Apesar de falar num “grande avanço”, o clínico sublinhou que este tratamento não vai resolver todos os cancros de sangue, mas é uma importante “arma terapêutica”.
Quanto ao processo em si, explicou que a “grande inovação” da terapia passa por células geneticamente modificadas. O processo começa com a recolha de linfócitos dos doentes que, posteriormente, são enviados para um laboratório nos Estados Unidos (EUA) onde vão ser geneticamente modificados para detetar e destruir as células cancerígenas.
O IPO/Porto já começou a fazer tratamentos com células CAR-T [designação dada], tendo infundido na terça-feira na primeira doente em Portugal, uma mulher de 39 anos, os Linfócitos T geneticamente modificados.
“Este processo, desde a colheita ao laboratório e ao regresso ao hospital de origem, demora cerca de quatro semanas. As células chegam criopreservadas e podem manter-se por um ano”, disse o clínico.
Revelou igualmente que a companhia forneceu a Portugal oito tratamentos sem custos diretos, entrando depois estes numa fase comercial.
Dizendo ainda não haver discussão de preços no país, contou que nos EUA só o tratamento ronda os 400 mil euros por doente, valor que não engloba os gastos indiretos, mas apenas a transformação das células.
O presidente do Conselho de Administração do IPO/Porto, Laranja Pontes, recordou que há vários anos que assumiu que a inovação e qualidade são dois dos vetores a perseguir. Para poder acolher esta nova terapia, falou em “muito tempo de sacarificação, organização de serviços, criação de novas competências e recrutamento de pessoal”.
Esta terapia está a começar a ser instalada em alguns países da Europa, adiantou, acrescentando que Portugal provou que também é capaz nesta matéria. “A criação de condições vai permitir-nos entrar em novos ensaios clínicos de firmas comerciais e indústria farmacêutica de outros continentes”, salientou.