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Física desvenda o segredo da textura única da cerveja Guinness

A cerveja Guinness tem uma textura única e a Física pode explicar porquê. De acordo com uma nova investigação, esta textura é induzida no copo pelo fluxo de uma película sem bolhas que flui desde baixo até ao largo do copo, no topo. 

O fenómeno, descrito esta semana na Science Reports, foi explicado por cientistas da Universidade de Osaka e pela gigante de distribuição de cerveja japonesa Kirin Holdings.

Segundo escreveram os especialistas, citados pela agência Europa Press, o fenómeno que ocorre num copo de cerveja da Guinness é análogo às ondas de laminação comummente observadas na água que desliza por uma superfície num dia chuvoso.

A cerveja Guinness – bebida escura, cremosa e símbolo forte da Irlanda – é pressurizada com azoto. Quando a bebida é vertida num copo de cerveja, as bolhas de gás com um diâmetro muito pequeno – têm apenas um décimo do que é utilizado nas bebidas com dióxido de carbono, como os refrigerantes e águas com gás -, dispersam-se por todo o copo, ajudando a criar a sua textura tão cremosa.

Apesar de o tamanho das bolhas ajudar a explicar por que têm estas um movimento descendente pelo copo de vidro, este não é o único fator em jogo. “A investigação concluiu que, quando a Guinness é despejada num copo comum, que se alarga em direção ao topo, o movimento ascendente das bolhas cria uma película sem bolhas acima da parede inclinada”, escreveram os cientistas no estudo.

Assim, sustenta a equipa, “a densa película cai, enquanto o volume rico em bolhas sobe – que é conhecimento como efeito Boicote”.

Por norma, quando uma cerveja é despeja num copo, muitas das bolhas tendem a mover-se para baixo, o que é contra intuitivo, uma vez que as bolhas num líquido tendem a subir até ao topo devido à diferença na densidade.

Procedimento experimental

Há vários anos que os especialistas tentam “desvendar” o segredo da Guinness, mas estudar a dinâmica dos seus fluídos tem sido difícil devido à sua cor escura que dificulta as observações diretas no copo. Para contornar este problema, a equipa, que foi liderada por Tomoaki Watamura, criou um “fluído pseudo-Guinness” transparente usando para isso partículas de luz e água da torneira.

Depois, os cientistas conduziram ensaios sobre a distribuição de bolhas na Guinness quando despejada em três diferentes recipientes – um copo de cerveja, um recipiente retangular inclinado e um recipiente em forma de trapézio -, visando observar como é que a textura se forma, precisa a Newsweek. Os movimentos foram filmados com uma câmara de vídeo de alta velocidade, sendo também aplicada uma técnica especial de observação a laser para medir com precisão o movimento do fluído.

Segundo Watamura, a descoberta pode ter implicações importantes para o estudo de vários sistemas físicos. “Há um grande número de pequenos objetos na natureza, como as partículas de rochas finas que são transportadas dos rios para os mares e micro-organismos que vivem em lagos e lagoas”, apontou.

“Compreender e regular o movimento de pequenos objetos é também importante em vários processos industriais. Os nossos resultado serão úteis para entender e controlar os fluxos de bolhas e partículas utilizados em processos industriais, bem como a cristalização de proteínas e o cultivo celular usado no campo da vida”, rematou.

ZAP //

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