Gabriella Ezra, de 91 anos, vai receber a Estrela de Itália. O Estado decidiu homenageá-la depois de a embaixada italiana em Inglaterra, onde Gabriella vive, ter recebido uma carta do filho, Mark, de 65 anos, a contar a história da mãe.
A honra deve-se à coragem que Gabriella demonstrou já perto do final da II Guerra Mundial. A 28 de abril de 1945, um pelotão de fuzilamento nazi invadiu Capella di Scorze, perto de Veneza, para se vingarem de um ataque de alguns partidários italianos que haviam deixado feridos vários alemães.
Gabriella, que falava fluentemente alemão – a sua família tinha vivido em Áustria -, pediu a um oficial nazi para mostrar piedade com os habitantes locais, reunidos e trancados dentro de um celeiro.
“Disse à minha mãe que tinha de fazer alguma coisa. Corri até ao oficial e expliquei-lhe que aqueles homens eram apenas agricultores que só se preocupavam com os seus campos e os seus animais”, recordou Gabriella à ITV. “Ele levou-me até ao comandante e eu implorei-lhe que não os matasse.”
“Depois levaram-me lá para fora e reuniram 38 homens – incluindo o pai de Gabriella – à frente de um esquadrão de fuzilamento e disse: “Esta mulher diz que vocês são todos inocentes. Se ela estiver a mentir, vamos matar-vos a todos e ela vai ser a primeira.”
No dia anterior, os aldeões tinham sido avisados por partidários locais do ataque aos nazis, por isso, de antemão, todos enterraram as suas braçadeiras de identificação. Os prisioneiros acabaram por ser libertados, mas não sem antes o comandante alemão dizer que todas aquelas pessoas deviam a sua vida a Gabriella.
Mais tarde, em 1946, um ano depois de a guerra terminar, Gabriella, que trabalhava como tradutora, conheceu o Capitão Ezra, com quem acabou por casar em 1949. Os dois foram viver juntos para Brighton, Inglaterra, onde tiveram dois filhos.
Recentemente, Gabriella regressou a Capella di Scorze pela primeira vez em 25 anos e foi recebida como uma heroína. “Fizeram-me uma refeição na praça. Diziam que estavam muito contentes por me verem porque eu tinha salvo a aldeia.”