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Marselha “subornou árbitros” e “drogou adversários” enquanto conquistava títulos

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(dr) football365.fr

Bernard Tapie com o seu então “braço direito”, Marc Fratani

O Marselha foi dono da Europa no início dos anos 90 e a derrocada começou logo após o êxito. Mais de 20 anos depois, o cenário torna-se cada vez negro, com a divulgação de casos que vão desde árbitros subornados até adversários drogados.

Segundo um artigo do Observador, divulgado esta segunda-feira, a 26 de maio de 1993, o AC Milan – que contava com Van Basten, Baresi, Rijkaard e Maldini – defrontou-se com um Marselha que tinha sido finalista vencido dois anos antes – perdeu com o Estrela Vermelha de Belgrado nas grandes penalidades – e que queria juntar “a glória europeia aos sucessos a nível interno”. Era a final da nova Liga dos Campeões, no estádio Olímpico de Munique.

O Marselha venceu o jogo, com um golo de Boli no final da primeira parte, com o qual Didier Deschamps e Fabian Barthez se tornaram o capitão e o guarda-redes mais novos a sagrar-se campeões europeus até então. O clube, tetracampeão francês entre 1988 e 1992, “tinha a Europa na mão”.

Bernard Tapie, político francês e ministro do Urbanismo do primeiro-ministro Pierre Bérégovoy durante a presidência de François Mitterrand, foi presidente do Marselha entre 1986 e 1994. Adepto do clube desde criança, “decidiu pegar no Marselha pelo topo e torná-lo uma potência francesa e europeia”, conta o Observador.

Para conquistar a então Taça dos Campeões Europeus e a Liga dos Campeões, o clube contratou jogadores como Jean-Pierre Papin – venceu a Bola de Ouro em 1991 -, Deschamps, Desailly, Rudi Völler e Cantona. Papin é, ainda hoje, o único elemento da história do clube a ser considerado o melhor jogador do mundo.

No banco técnico, entre os onze treinadores que passaram pelo Marselha na era Tapie estão Beckenbauer, Gérard Gili e Raymond Goethals.

Richard Attagnant / Flickr

O antigo presidente do Marselha, Bernard Tapie

O fim do período de sucesso do Marselha começou em 1993, o mesmo ano em que se tornou o primeiro clube francês a sagrar-se campeão europeu. Na altura, o Valenciennes – clube da segunda metade da Liga francesa -, acusou o Marselha e o presidente Bernard Tapie de viciar o resultado do jogo entre as duas equipas, com o intuito de poupar os principais jogadores para os compromissos europeus mas garantir, ainda assim, a vitória.

De acordo com o Observador, o caso foi exposto três jogadores do Valenciennes – Jacques Glassmann, Jorge Burruchaga e Christophe Robert -, que acusaram Jean-Jacques Eydelie, médio do Marselha (e atual treinador do Limoges), de os contactar e pedir, a troco de uma elevada recompensa monetária, que perdessem e não lesionassem nenhum jogador adversário.

O caso, denominado “l’affaire VA-OM”, impediu que o Marselha participasse nas competições europeias de 1994, despromoveu a equipa à segunda liga francesa e retirou o título francês de 1992/93 — que completaria o pentacampeonato e que acabou por não ser atribuído, já que o PSG, segundo classificado, recusou ser considerado campeão.

Bernard Tapie foi forçado a demitir-se, condenado a dois anos de prisão – dos quais só cumpriu seis meses – e multado em 20 mil francos. Glassmann, Burruchaga e Robert foram condenados a penas de prisão, assim como Eydelie, este último com pena suspensa.

Com o avançar dos anos 90, continua o Observador, o escândalo de corrupção foi ficando esquecido, abafado por outros – como o da Bundesliga ou o que envolveu a Juventus. O Marselha só voltou à principal Liga francesa em 1996, com Rolland Courbis enquanto treinador e Laurent Blanc no plantel.

https://twitter.com/ActuFoot_/status/1101909278435278848

No final da passada semana, contudo, Marc Fratani, braço direito de Bernard Tapie durante 30 anos – na política, nos negócios e no futebol -, deu uma entrevista ao Le Monde, na qual contou os segredos mais bem escondidos do sucesso do Marselha no final dos anos 80 e início dos 90.

Tendo cortado ligações com o antigo presidente do Marselha em 2016, “foi o homem mais próximo do empresário durante três décadas” e assistiu “aos crimes que o então presidente do clube francês cometeu para colocar o Marselha no topo do futebol mundial”.

“[Bernard] Tapie é uma pessoa que não tem limites. Para chegar a algum lado é capaz de qualquer coisa. Uma vez participei no suborno a um árbitro. Foi num jogo com o PSG em Paris. No dia seguinte, encontrei-me com ele no local discreto que tínhamos combinado. Naquele jogo, os jogadores do PSG foram desestabilizados com o uso de uma droga psicotrópica: Haldol”, contou Marc Fratani.

Sem esconder o fascínio que manteve por Bernard Tapie e pela sua “força e convicção” – passando 30 anos a “protegê-lo, por todos os meios, de todos aqueles que lhe queriam fazer mal” -, disse ao jornal francês que utilizaram seringas ultra finas para injetar o produto em garrafas de água que os jogadores do PSG iam beber no balneário.

Marc Fratani relatou ainda outro episódio do mesmo período, antes de um jogo com o Rennes. Baltazar (que passou também pelo FC Porto) e Pascal Rousseau, avançado e guarda-redes do Rennes, adormeceram na viagem entre Marignane e Marselha depois de terem bebido um sumo de laranja no hotel que, de acordo com as declarações dos dois depois do jogo, tinha um “sabor estranho” e deixou-os com um “cansaço extremo”.

https://twitter.com/Europe1/status/1102471347609853952

O Rennes acabou por perder 5-1 em casa do Marselha e Baltazar e Rousseau, os dois jogadores mais importantes da equipa, cometeram vários erros ao longo do jogo.

Bernard Tapie, atualmente com 76 anos, respondeu rapidamente às acusações de Marc Fratani e disse ao antigo colaborador que para comprovar a história que contou ao Le Monde terá de “dizer o nome” do árbitro do jogo com o PSG que mencionou, tendo ignorando as restantes alegações.

“Há idiotas que vão querer acreditar nisto porque lhes agrada, há outras pessoas que terão consciência. Se ele comprou um árbitro, deve dizer o seu nome, dizer onde, quando e quem lhe deu o dinheiro…não tenho mais comentários a fazer”, afirmou o antigo presidente do Marselha.

O clube está no quarto lugar da Liga francesa — a 25 pontos do líder PSG e a cinco do Lyon, que é terceiro — mas já foi eliminado da Taça de França, da Taça da Liga francesa e da Liga Europa (onde ficou no último lugar do Grupo H, com apenas um ponto).

Afastado do Marselha – que foi campeão pela última vez em 2009/10 – há mais de 20 anos, Bernard Tapie continua a provocar ondas de choque. O clube volta a ser abalado pela memória do período mais bem sucedido da história a nível desportivo, que é,  também, “a época mais negra de sempre a nível legal, institucional e reputacional”.

TP, ZAP //

9 Comments

  1. A parasita Lagarde deu 400 milhões dos contribuintes franceses a este mafioso do Marselha e ainda anda por aí a dar recados aos países!…

  2. Zap:
    “tendo Didier Deschamps e Fabian Barthez tornado-se o capitão e o guarda-redes mais novos a sagrar-se campeões europeus até então”

    tendo Didier Deschamps e Fabian Barthez tornado-se????

    Isto não é PORTUGUÊS minimamente decente, muito menos numa notícia publicada por um jornal.

    sagrar-se – onde está a concordância do plural?

    Sugestão:
    com Didier Deschamps e Fabian Barthez a tornarem-se o capitão e o guarda-redes mais novos a sagrarem-se campeões europeus até então

    • Caro/a ah,
      Obrigado pelo seu reparo e sugestão.
      Optámos por alterar o texto para “com o qual Didier Deschamps e Fabian Barthez se tornaram o capitão e o guarda-redes mais novos a sagrar-se campeões europeus até então”.

      • Só continuo em desacordo com o “sagrar-se”, pois que são dois indivíduos, ou seja, plural.

      • Caro Ah,
        O plural está em “tornaram”. Se duas pessoas “almoçarem juntas”, elas “foram almoçar juntas”.

      • É claro que se “almoçaram juntas” então “foram (ao restaurante) almoçar juntas”, mas também é verdade que “foram ao restaurante *e* almoçaram juntas”, correcto?
        Portanto, creio que naquela frase a diferença vem da preposição “a” (…mais novos *a* sagrarem-se…), e por isso o plural não pode ficar exclusivamente no “tornaram”.

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