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Campanha da Zara com modelo com sardas causa polémica na China

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Uma campanha para uma nova linha de cosméticos da marca espanhola Zara despertou grande atenção por causa da escolha da modelo Jing Wen, conhecida pelas suas sardas. A escolha da modelo provocou reações significativas entre utilizadores da rede social Sina Weibo, uma das mais populares no país.

Segundo um artigo da BBC, divulgado no sábado, ter a pele clara e sem manchas tem sido uma regra de beleza há décadas naquele país e no restante leste asiático. Desde que a Zara lançou a campanha, na sexta-feira, muitas pessoas na China mostraram-se confusas diante da decisão da marca de apresentar uma modelo com sardas.

Houve quem tenha considerado a modelo “feia”. Outros questionaram se a Zara estava a “insultar” ou “difamar os chineses”. “Fotos com uma modelo asiática com sardas e um rosto redondo e inexpressivo leva a impressões equivocadas dos ocidentais quanto às mulheres asiáticas e podem levar ao racismo”, foi um dos comentários.

De facto, as sardas – nome dado às manchas causadas pelo aumento da melanina, o pigmento que dá cor à pele – são raras em chineses, informa a BBC. Apesar das críticas, com muitos a afirmarem que a campanha tornou o povo chinês “feio”, outros pediram mais esforços no país para que as pessoas aceitem a sua beleza natural.

A modelo Jing Wen, que é da cidade de Guangzhou, no sul da China, tornou-se um rosto conhecido no mundo da moda nos últimos cinco anos, sendo modelo de uma série de marcas de luxo e roupa casual, como a Calvin Klein e a H&M.

Embora não tenha comentado a controvérsia gerada pela campanha, Jing Wen falou sobre as inseguranças que já teve por causa das sardas. “Em pequena, odiava-as, porque os asiáticos normalmente não têm sardas”, disse à Vogue, em outubro de 2016. “No ensino secundário, sempre tentei cobri-las, mas agora está tudo bem. Gosto delas, e isso basta”.

Em entrevista ao site Pear Video, um representante da Zara indicou que a campanha foi direcionada para o mercado global e não especificamente para a China. “A estética do povo espanhol é diferente. Os nossos modelos são fotografados sem artifícios e as fotos não são modificadas”, contou.

Jing Wen “sempre teve esta aparência, o seu rosto não foi alterado, ela foi fotografada ao natural”, acrescentou.

A resposta da Zara levou dezenas de milhares de utilizadores da rede social Sina Weibo a comentarem o assunto, com muitos a aplaudir a decisão da marca de não modificar de forma digital o rosto da modelo e a expressar a sua indignação por a mesma estar a ser criticada por pessoas do seu próprio país.

“Esta modelo chinesa sofre discriminação dos seus compatriotas”, escreveu um dos utilizadores. Outro questionou: “Quanto complexo de inferioridade o povo chinês tem?”.

Muitos elogiaram a beleza natural de Jing Wen, incentivando a criação de mais campanhas para a aceitação de diferentes perceções sobre a beleza. “As ideias do que é esteticamente agradável são demasiado restritas para muitas pessoas”, afirmou um utilizador. Outro apelou a “mais diversidade estética”.

Outros utilizadores voltaram as suas críticas para o governo, afirmando que este fomenta uma “um ataque contínuo a marcas estrangeiras, sob o disfarce de patriotismo”. O China Daily, controlado pelo Partido Comunista chinês, referiu que as queixas contra a nova campanha ajudam a “evitar que a imagem da nação seja prejudicada”.

Houve também quem apontasse semelhanças entre a polémica da Zara e a recetividade de uma campanha da marca Dolce & Gabbana (D&G), veiculada no ano passado, que apresentava uma modelo chinesa a comer pizza e massa com pauzinhos, criticada por ser considerada “culturalmente insensível”.

Para alguns dos utilizadores das redes sociais, desde o incidente da D&G, “criticar empresas ou indivíduos por supostos insultos ao público chinês” tornou-se um hábito. Para outros, as críticas à Zara são um “exagero”.

TP, ZAP //

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