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Um falso poema de Sophia tomou conta da Internet (e até engana académicos)

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D.R.

O poema “O mar dos meus olhos” parece estar entre os mais conhecidos de Sophia de Mello Breyner Andresen, se tivermos em conta a proliferação de páginas e publicações nas redes sociais, e mesmo alguns artigos académicos. Mas, na verdade, a poeta nunca o escreveu.

“O mar dos meus olhos” surge em milhares de páginas na Internet e nas redes sociais como sendo um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), é até comentado em artigos académicos e foi traduzido para Línguas como o alemão e o neerlandês.

Mas o poema nunca foi escrito por Sophia, como garante a sua filha, Maria Andresen Sousa Tavares, em declarações ao Público. “Há alguma semelhança de temas, mas a escrita é diferente”, sublinha, sem perceber como é que este engano foi disseminado pela Internet.

“Um jornalista cultural pediu-me para o incluir numa antologia, porque era, dizia ele, o poema da minha mãe de que gostava mais“, conta Maria Andresen Sousa Tavares.

O ensaísta Carlos Mendes de Sousa, que se especializou na obra da poeta agraciada com o Prémio Camões em 1999, está certo de que “a voz não é a dela” neste fatídico poema.

“O mar dos meus olhos” surge em sites de todo o tipo, desde blogues a páginas institucionais, como Blibliotecas, em vídeos no YouTube, e é até citado em teses de doutoramento.

Mas também é objecto de artigos literários, nomeadamente na revista académica brasileira Intertexto, num artigo assinado por um “mestre e doutor em Letras, área de Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade Estadual Paulista”, onde se fala de “O mar dos meus olhos” como um dos exemplos da “grande força expressiva” e da “qualidade inquestionável” da poesia de Sophia, como transcreve o Público.

Lá fora, há um site que tem por alvo turistas de Língua alemã que chega a garantir que Sophia escreveu o poema no Miradouro da Graça, na capital portuguesa, como relata o Público. Colocando este ponto como uma das atracções a visitar em Lisboa, o site nota que a poeta ia com frequência ao dito Miradouro em busca de “inspiração para os seus poemas”. E terá sido numa dessas visitas que Sophia escreveu o poema que, afinal, não lhe pertence.

ZAP //

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14 Comments

  1. ZAP:
    Segundo o Priberam, “poeta” é um substantivo MASCULINO. O feminino é “poetisa”.
    (há, pelo menos, duas ocorrências da palavra)

    • Apesar de o dicionário definir neerlandês como uma lingua mais vasta que cobre também a Bélgica e de que o holandês – na Holanda – e o flamengo – na Bélgica – são dialectos, a palavra neerlandês é de uso muto restrito, nada vulgar, na língua portuguesa.

  2. Boa tarde.
    Portanto, se não foi a Sophia de Mello Breyner Andresen a escrever o poema, já existe alguma teoria sobre quem poderá ter sido? Sugiro também, da forma mais humilde possível, se à semelhança de Fernando Pessoa, não poderá ter sido uma/um sua/seu heterónima/o? Muito obrigado.

      • Bom dia caro “Ah”. Dos tempos em que escrevia poesia e prosa, seria algo que me poderia ter ocorrido, mas juro que não fui eu!!! Ahahahahahaha brincadeira, pois claro. Mas muito honestamente, como é que alguém pode afiançar de certeza absoluta que não foi a Sophia que escreveu? Bem sei que é a filha, mas… os poemas obedecem a métricas, estilos, etc… mas é poesia, não é uma ciência exacta! E mesmo essas, por vezes, bem nos surpreendem!

    • Cara Maria João, o grande mistério é precisamente quem terá sido o autor do poema! Quanto a um eventual heterónimo ou até à possibilidade de se tratar de um poema rabiscado por Sophia e nunca editado em livro, a filha garante que não é possível e tem a certeza de que não é da autoria da mãe.

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