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Enfartes afetam o desempenho cognitivo de 85% dos doentes

Um grupo de investigadores portugueses concluiu que 85% dos doentes que sofreram um enfarte registam perda cognitiva, com cerca de metade destes a acusar défices de fluência verbal considerados graves.

A percentagem de disfunção cognitiva após uma síndrome coronária aguda – que inclui os enfartes do miocárdio e a angina – é “consideravelmente elevada“, indica a pesquisa, coordenada pelo investigador Bruno Peixoto, do Cintesis – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

Os resultados obtidos nesta investigação, publicada no Journal of Cardiovascular and Thoracic Research, em junho de 2018, apontam para uma prevalência da perda cognitiva bastante superior à registada noutros estudos do género (entre 11 e 67%).

Na população analisada, “85% dos doentes têm algum compromisso da fluência verbal, sendo que este compromisso é grave em cerca de 50% dos casos“, explica Bruno Peixoto, também professor da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU).

A fluência verbal está associada, neste estudo, à escolaridade, “um fator conhecido de reserva cognitiva”. Confirma-se, assim, que uma maior escolaridade protege os doentes que sofreram um enfarte, ou outro problema cardíaco, da perda neurocognitiva.

Embora atinjam uma percentagem inferior de doentes (26%), os problemas de linguagem subsequentes a problemas cardíacos surgem relacionados com fatores como a pressão arterial diastólica e a profissão, sendo que as profissões ditas intelectuais são as menos afetadas.

Quanto à perda memória, que afeta 60% desses pacientes, aparece claramente relacionado com o tabagismo. “Existe mesmo uma relação entre o número de cigarros fumados diariamente antes do problema cardíaco e a gravidade com que a memória é afetada”, explica Bruno Peixoto.

Segundo o Cintesis, a idade é um dos fatores mais relacionados com o surgimento de défices neurocognitivos, e, quanto mais idade tiver o doente, maior a probabilidade de sofrer algum tipo de défice.

Relativamente a fatores emocionais, os doentes com mais ansiedade são também aqueles com menos comportamentos saudáveis e, logo, com mais fatores de risco cardiovascular.

Face à elevada prevalência de problemas cognitivos nestes doentes, Bruno Peixoto considera que “deveria ser realizada por sistema uma avaliação neurocognitiva para detetar possíveis défices e iniciar o mais rapidamente possível um programa de reabilitação, diminuindo, assim, o impacto destas doenças altamente prevalentes na população”.

Esta investigação teve como objetivo calcular a prevalência de défice neurocognitivo num grupo de doentes a fazer reabilitação cardíaca num hospital, nos três meses após o diagnóstico de síndrome coronária aguda.

Taísa Pagno , ZAP //

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