O Estabelecimento Prisional de Lisboa, cadeia onde ocorreu um motim esta terça-feira à noite, esteve já 312 dias em greve durante este ano, 299 dos quais às horas extra, revelam dados da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público.
Os números são avançados pelo jornal Público nesta quinta-feira, que confirmou os dados junto do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP).
Segundo o matutino, foi o SNCGP que convocou greve para os quatro primeiros dias do mês e tem marcados mais 18 dias de greve, em três períodos, até à antevéspera de Natal – notícia que revoltou muitos reclusos, que acabaram por gerar um motim.
Em declarações ao diário, o presidente do sindicato, Jorge Alves, reconhece que a altura do Natal é má para fazer greve, mas culpa o Governo pelo protesto. “Fomos empurrados para isto e temos pena que isto afete os reclusos”, considerou.
Para o sindicalista, o Governo anda a brincar com os guardas prisionais. “Entre maio e agosto estivemos a negociar a revisão do nosso estatuto sócio-profissional com pelo menos duas reuniões por mês, a 21 de agosto o Ministério manda-nos um projeto com o que aceitava rever para discutirmos no dia seguinte”, explicou Jorge Alves.
A reunião em causa realizou-se mas depois as negociações foram suspensas por causa das férias e do impacto financeiro das medidas e a tutela, garante, só se voltou a reunir com o SNCGP no final de novembro. “A secretária de Estado informou-nos que o primeiro-ministro não ia renegociar o estatuto, porque este era recente [2014] e não se justificava”, contou.
“Venham pedir humanidade ao corpo da guarda prisional quando não nos tratam como humanos mas como máquinas”, responde o sindicalista às declarações da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, esta quarta-feira, no Parlamento
“Do ponto de vista humano não é o período ideal para encetar este tipo de luta. Estou convencida que os guardas prisionais, até pela carreira que escolheram, têm um elevado grau de humanidade”, afirmou a ministra.