Além da falta de espaços habitáveis, Paris agora enfrenta um outro problema: a escassez de lugares nos cemitérios. Em 2017, apenas 171 lugares foram vendidos em mausoléus da capital francesa, enquanto cinco mil pedidos de enterros tiveram que ser recusados nos 14 cemitérios de Paris.
Perante o problema, a Câmara Regional de Contas parisiense publicou um relatório no início deste mês no qual demonstra a sua preocupação.
A mortalidade na cidade deve acelerar nos próximos anos com o envelhecimento da população, e a instituição realça que, diante da grande procura, a autarquia de Paris não está a conseguir assegurar túmulos nos cemitérios.
Há várias regras a cumprir. Desde 2016 que nenhuma pessoa pode ser enterrada na capital francesa se não tiver vivido em Paris. Os espaços só podem ser libertados se não tiverem mais de 30 anos de existência, e o serviço de conservação do património precisa de ter provas de que o mausoléu está abandonado.
Além disso, são necessários mais de três anos para verificar que nenhum descendente do proprietário do túmulo pretende mantê-lo. O ano passado, 3.150 pessoas foram enterradas nos 14 cemitérios da capital francesa, a maior parte dos quais em mausoléus antigos, adquiridos há muitos anos.
Mas em 2007 a cidade deixou de vender concessões antes do dia da morte. Se no dia da morte da pessoa nenhum espaço estiver disponível nos cemitérios parisienses, não resta opção a não ser o enterro fora da capital – o que aconteceu a 4.948 parisienses que tiveram que ser enterrados em cemitérios da periferia em 2017, por falta de lugar.
Outro problema é que 97% dos túmulos de Paris são eternos, e uma boa parte deles têm valor patrimonial. No cemitério Père Lachaise, no 20° distrito de Paris, 30 mil túmulos foram classificados como monumentos históricos por guardar os restos mortais de celebridades, como a cantora francesa Edith Piaf ou o escritor inglês Oscar Wilde.
Com o objetivo de encontrar soluções, a prefeitura da capital começou este mês a debater a questão.
Nos últimos 15 anos, Paris já duplicou o preço dos espaços eternos. Em média, nos cemitérios das capitais, custam actualmente 15 mil euros. Mas uma das principais propostas é acabar com a venda de túmulos perpétuos em vinte cemitérios locais.
“A ideia já enfrenta no entanto forte oposição, por exemplo do lobby dos religiosos e das grandes famílias parisienses”, acusa o vereador Yves Contassot, encarregado da pasta de Meio Ambiente da capital francesa.
// RFI