Os cientistas defendem que o cérebro humano se expandiu em resposta aos stresses ambientais, que forçaram a nossa espécie a encontrar soluções inovadoras para sobreviver.
O cérebro humano é muito grande. Esta abundância de massa cinzenta confere, certamente, vantagens intelectuais que explicam a razão pela qual somos tão desenvolvidos. Contudo, sustentar um órgão deste tamanho não deve ser nada fácil. Aliás, o cérebro consome um quinto de toda a energia no corpo humano.
Os investigadores Mauricio Gonzalez-Forero e Andy Gardner, da Universidade de St Andrews, na Escócia, acreditam ter descoberto o porquê de os cérebros humanos terem crescido tanto.
Segundo os cientistas, o cérebro humano expandiu-se principalmente em resposta aos stresses ambientais, que forçaram a nossa espécie a encontrar soluções inovadoras para se alimentar e se abrigar, passando essas lições às gerações seguintes.
Esta hipótese, testada pela dupla de investigadores via simulações de computador, desafia uma teoria popular de que o órgão cresceu à medida que as interações sociais entre os humanos se tornaram mais complexas.
No entanto, o inverso pode ter acontecido. “As descobertas são intrigantes porque sugerem que alguns aspetos da complexidade social são mais prováveis de serem consequências do que causas do nosso grande tamanho cerebral”, explica Gonzalez-Forero.
“O grande cérebro humano é, provavelmente, o resultado de problemas ecológicos do que resultado da interação social”, defende. O artigo científico foi publicado recentemente na revista Nature.
Dos australopitecos, mais semelhantes aos símios, até ao moderno Homo sapiens, o cérebro humano triplicou de tamanho. Alimentar um cérebro tão grande como o nosso implica um crescimento lento do corpo durante a infância, e isso faz com que as crianças sejam mais dependentes e vulneráveis durante mais tempo do que os outros animais.
Para desmistificar a nossa grandeza cerebral, Gardner e Gonzalez-Forero desenvolveram um modelo matemático para medir se enfrentar problemas ecológicos e sociais teve, de facto, um impacto mensurável no crescimento do cérebro.
Os “cérebros” utilizados como modelos tiveram de enfrentar desafios ecológicos, como encontrar presas em condições climáticas adversas ou em terrenos difíceis, ou preservar alimentos para protegê-los contra a deterioração.
Foram também introduzidos desafios sociais para testar a influência da cooperação e da competição entre indivíduos e grupos no crescimento do nosso cérebro.
Curiosamente, a cooperação foi associada a uma diminuição no tamanho do cérebro, isto porque, provavelmente, permitia que os indivíduos confiassem nos recursos uns dos outros e economizassem energia.Enquanto os desafios sociais não pareciam “originar” cérebros grandes, os problemas ecológicos (principalmente os mais difíceis) expandiam o órgão.
No entanto, estas conclusões fazem-nos questionar por que motivo os cérebros de outros animais, que vivem em ambientes mais desafiadores, não cresceram tanto como o cérebro humano. A resposta reside na cultura, na habilidade de aprender com os outros em vez de ter que descobrir tudo sozinho, explicam os investigadores.
“Os nossos resultados sugerem que a interação da ecologia e da cultura originou o tamanho do cérebro humano”, disse Gonzalez-Forero.
ZAP // HypeScience