Uma equipa de investigadores analisou vários esqueletos com deformações características da doença e concluiu que as primeiras estirpes da lepra afinal começaram na Europa.
De acordo com um novo estudo, publicado na revista científica PLOS Pathogens, a lepra pode, afinal, ter surgido na Europa e não na Ásia como se pensava originalmente.
“Durante séculos, sempre houve um ponto de interrogação sobre onde terá sido originada a doença. A maioria das hipóteses acreditava que a lepra tinha começado na China e no Médio Oriente”, afirma Helen Donoghue, co-autora do estudo e investigadora na University College London, no Reino Unido, em declarações ao The Guardian.
“Esta última investigação mostra que estirpes da bactéria da lepra estiveram, de facto, presentes na Europa medieval, o que sugere fortemente que a doença se originou muito mais perto de casa do que pensávamos, provavelmente no sudeste da Europa ou oeste da Ásia”, explica a investigadora.
A lepra é uma das mais antigas doenças registadas e uma das mais estigmatizadas da Humanidade. Foi predominante no continente europeu até ao século XVI e ainda hoje é endémica em muitos países, sobretudo nas regiões equatoriais, com cerca de 200 mil novos casos reportados anualmente.
A equipa de investigadores examinou cerca de 90 esqueletos com deformações características da doença, que foram encontrados na Europa entre o ano 400 e 1400 Depois de Cristo.
Dos restos mortais analisados, os cientistas conseguiram reconstruir dez novos genomas da Mycobacterium leprae medieval, ou seja, a bactéria que causou a doença. Anteriormente, apenas se conhecia uma ou duas estirpes que tinham circulado na Europa medieval e estas novas sugerem que a doença deve ter alguns milhares de anos.
Segundo o jornal britânico, esta nova pesquisa também inclui a estirpe mais antiga já encontrada, que foi extraída dos restos mortais encontrados em Great Chesterford, Essex, e datados entre 415 e 545 anos Depois de Cristo. Esta estirpe também revelou ser a mesma encontrada nos esquilos-vermelhos atuais, o que indica que a doença pode ter sido introduzida em Inglaterra através do comércio da pele destes animais.
De acordo com Johannes Krause, autor sénior do estudo e diretor do Max Planck Institute for the Science of Human History, na Alemanha, diz que agora a equipa quer estudar esqueletos ainda mais antigos na tentativa de corroborar registos escritos de casos de lepra que datam de há dois mil anos.