Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira foram ao Parlamento falar da violência no futebol

Mário Cruz / Lusa

Bruno de Carvalho e Luís Filipe Vieira na conferência “Violência no Desporto”, na Assembleia da República

Os dirigentes do Sporting e do Benfica estiveram presentes, esta terça-feira, na Assembleia da República, no âmbito da conferência “Violência no Desporto”.

Bruno de Carvalho saiu em defesa do papel dos clubes no futebol português e refutou a tese de que as declarações públicas dos dirigentes contribuam para o clima de tensão e violência.

Numa intervenção na conferência “Violência no Desporto”, na Assembleia da República, o líder do clube de Alvalade considerou ainda que o atual estado da modalidade deriva do que designou de “lixo tóxico” difundido por programas de televisão e visou também organismos como a Liga e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

“Mais importantes do que os jogadores e os treinadores são os clubes. Se não fosse pelos clubes, vocês não se sentavam aí. Os clubes estão a ser o único garante de que o futebol ainda tem adeptos, porque as entidades que regulam o futebol estão a afastá-los. A culpa não está do lado de cá, tem de estar desse lado”, afirmou.

Bruno de Carvalho foi ainda mais longe e retirou peso às trocas de palavras entre os dirigentes do futebol português, referindo que “não tem interesse nenhum o que diz o presidente A ou o presidente B” e que “não é isso que traz violência para o desporto”, apesar da visão contrária da maioria dos outros intervenientes.

“Gostava de saber se os dirigentes não falassem durante duas semanas se mudava alguma coisa? Não mudava nada”, explicou, acrescentando: “Quando se diz que na FPF se tem atuado muito, acho que isto não tem validade substantiva. Apenas quer dizer que o dinheiro sai de onde deveria estar, nos clubes, para onde não deveria estar: nessas instituições.”

Num discurso onde também abordou o papel do Instituto Português de Desporto e Juventude (IPDJ), a atuação do Ministério Público ou mesmo da Assembleia da República, Bruno de Carvalho dirigiu no fim algumas questões concretas à Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), à Liga e à FPF, que não ficaram sem resposta.

Em relação a Fernando Gomes, o líder leonino questionou sobre o visionamento das imagens do vídeoárbitro nos estádios, ao que o presidente da FPF assegurou que “os regulamentos não permitem a passagem dos lances duvidosos nos estádios”.

Por sua vez, Luciano Gonçalves, presidente da APAF, reconheceu que o Sporting tem tido “comportamentos” em prol da dignificação da arbitragem, “mas que todos podem fazer muito mais”, contestando ainda a ideia de Bruno de Carvalho sobre a ausência de correlação entre as palavras dos dirigentes e a violência no desporto.

A terminar, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores, vincou que “todo o futebol está sob suspeição” e que a recente tomada de posição dos capitães de equipa está em linha com a própria postura do presidente do Sporting, quando este se sentiu ofendido na sua “dignidade pessoal” e acabou por convocar eleições.

“Não são todos iguais. Os jogadores exigem respeito, como o presidente do Sporting, do Benfica ou da Liga. Eles é que são o maior ativo do futebol português. Há um ambiente castrador no futebol português”, frisou, ao que Bruno de Carvalho ripostou: “No meio de tudo o que se está a passar no futebol, o que se está a passar com os jogadores é o mais diminuto”.

Fernando Gomes defende penas mais duras

O líder federativo salientou que o organismo está atento e a atuar em relação ao aumento dos casos de violência, enumerando o crescimento das multas em relação à última época: 26% para o comportamento de adeptos e 245% sobre os dirigentes.

“Defendemos regulamentos mais duros, que inibam as pessoas do futebol a contribuir para a destruição do setor”, disse Fernando Gomes, acrescentando: “Temos um problema grave de apreciação do trabalho de arbitragem. É inaceitável que agentes desportivos contribuam para a destruição da figura do árbitro. Incentivamos os clubes a endurecer as penas para quem coloca em causa a seriedade dos árbitros”.

Sem deixar de recusar o papel de “comentador”, face aos regulares pedidos de intervenção de diversos agentes, Fernando Gomes alertou, porém, que é o tempo das instituições avançarem com eventuais mudanças aos quadros regulamentares.

“É altura de a estrutura profissional voltar a refletir. Estamos a três meses de poder alterar regulamentos para a próxima época. É preciso fechar processos, concretizar procedimentos, mudar atitudes e obrigações. Temos todos que fazer tudo para que seja possível começar a próxima época com outra capacidade de resposta”.

O presidente da FPF voltou a relembrar algumas das ideias apresentadas numa audiência na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, em outubro de 2017, e, expressando a sua satisfação pela atenção que a Assembleia da República está a ter sobre as mesmas, reiterou a importância da criação de uma autoridade autónoma administrativa.

“Defendemos a criação de uma autoridade administrativa, exclusivamente vocacionada para a segurança e combate à violência no desporto, dotada de recursos e não apenas de atribuições e competências, que tornem exequível a celeridade e inevitabilidade da ação sancionatória face à inobservância da Lei. Tal organismo deverá ser central, autónomo e especializado”, disse.

Já sobre a crescente preocupação com o mau comportamento dos adeptos, Fernando Gomes preconizou uma “maior eficácia na aplicação das medidas de acesso a recintos desportivos”, bem como possíveis “mudanças na política de apoios e regulação dos grupos de adeptos” no futebol português.

ZAP // Lusa

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