Dentro de alguns anos, uma base de dados, que se encontra atualmente em estudo, pode vir a tornar-se um mapa de solos forenses do país.
Recorrendo a esta ferramenta, poderá ser possível saber se os vestígios do solo encontrados nos sapatos do suspeito são iguais aos do local do crime, recorrendo a uma base de dados com duas centenas de amostras de sedimentos e solos da zona costeira de Portugal continental e de algumas ilhas dos Açores.
Esta novidade foi apresentada nas Jornadas de Polícia Científica da Polícia Judiciária. O diretor do Laboratório de Polícia Científica (LPC), Carlos Farinha, considera que ambas as investigações “podem sempre gerar valor acrescentado, mas que, por enquanto, são uma hipótese de trabalho” que precisa de ser validada.
A metodologia dos cabelos sem raiz ainda precisa de continuar a ser testada, porém o LPC já recorreu, em perícias, à base de dados forenses dos solos, desenvolvida na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, no âmbito de um protocolo de colaboração com esta instituição académica.
Alexandra Guedes, líder do projeto, começou a recolher as amostras há uma década, mas as amostras já aumentaram graças ao contributo de alunos de mestrado em Geologia, em estágio no LPC.
De acordo com o Público, os três estudantes avaliaram três propriedades do solo com equipamentos portáteis não destrutivos: a cor, a susceptibilidade magnética e a composição química elementar.
No entanto, Alexandra Guedes admite que ainda “falta muito” para haver o mapeamento forense de solos de todo o país, que será uma peça fundamental nas perícias e na resolução de crimes.
A Escócia, por exemplo, já tem um mapeamento forense. Por enquanto, em Portugal existe uma base de dados forenses com cerca de 200 amostras de sedimentos e solos da zona costeira de Portugal continental e algumas ilhas dos Açores.
“O que quer que as pessoas toquem e tudo o que as contacta deixa rasto. Se identificarmos esse rasto, podemos concluir onde uma pessoa foi e, até mesmo, colocá-la num determinado local”, afirma a investigadora.
“O solo possui uma assinatura biogeoquímica única que pode ser utilizada durante uma investigação forense para fornecer indícios acerca da sua origem geográfica”, afirma Alexandra Guedes, realçando o contributo do solo na ciência forense.
Cabelos sem raiz também podem denunciar
Cátia Martins, no âmbito do seu estágio do mestrado em Genética Forense, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que fez entre 2015 e 2016 no LPC, conseguiu ajudar a colmatar uma falha existente na obtenção de resultados na análise genética de cabelos sem raiz.
Os cabelos são uma das provas mais encontradas em cenas de crime. A investigadora testou dois novos kits de quantificação e amplificação da molécula de ADN – o InnoQuant HY e Innotyper 21- ambos desenvolvidos e patenteados pela empresa norte-americana InnoGenomics.
Estes dois kits permitiram ao LPC produzir resultados “bastante satisfatórios” em amostras de cabelos sem raiz provenientes de cenas reais, algo que até à data era difícil.
“O que prova que a implementação e a utilização destes kits na rotina laboratorial do LPC seria uma mais-valia”, conclui Cátia Martins ao Público, a principal autora de um artigo científico publicado recentemente na revista Forensic Science International.
A investigadora não considera que esta seja uma revolução nas ciências forenses, mas antes “uma inovação, pelo facto de permitir obter resultados em amostras que são consideradas difíceis pela sua quantidade e qualidade de ADN limitada”.