O bastonário da Ordem dos Médicos reconhece que existem evidências da eficácia da canábis para fins terapêuticos, mas avisa que a prescrição deve ser exclusivamente médica, na “forma medicamentosa”.
A Ordem dos Médicos (OM) dá luz verde à prescrição de medicamentos à base de canábis para fins terapêuticos, mas não concorda com a prescrição de erva para fumar.
Um parecer, solicitado nos últimos meses pelo bastonário Miguel Guimarães ao Conselho Nacional da Política do Medicamento da Ordem dos Médicos, homologado esta quarta-feira, vai ao encontro das propostas do Bloco de Esquerda e do PAN, de que a prescrição de canábis medicinal deve ser feita mediante uma receita especial.
“Neste momento não é sensato que a canábis seja utilizada na sua forma original” com fins medicinais, como preveem os projetos de lei do Bloco de Esquerda e do PAN que nesta quinta-feira vão ser discutidos na Assembleia da República.
Miguel Guimarães defende que “não é lógico autorizar que se fume a erva numa altura em que já existem medicamentos”, sob a forma de medicamentos, óleos ou sprays, aprovados.
A Ordem tem “abertura” para aceitar a utilização de medicamentos extraídos da planta, “o que os médicos não podem é prescrever uma caixa de folha de canábis”, frisa Miguel Guimarães.
Os especialistas deste conselho da OM destacaram no parecer a “forte evidência científica” da eficácia do uso de canábis e dos seus derivados, não apenas no alívio da dor crónica em adultos como anti-emético no tratamento de cancro, mas também na redução da espasticidade na esclerose múltipla e no controlo da ansiedade, escreve o Público.
Além disso, com “moderada evidência”, a canábis poderá ser usada na melhoria do sono em pessoas com apneia obstrutiva do sono, fibromialgia, anorexia por cancro ou stress pós-traumático e em glioma.
Há, porém, uma lista de condições clínicas em que defendem não haver evidência científica de que o uso de canábis é eficaz. Entre elas estão a epilepsia, espasticidade por lesão medular, esclerose lateral amiotrófica, glaucoma, doença de Parkinson e esquizofrenia.
A eventual permissão deve ser “alvo de reflexão ponderada e multidisciplinar“, defendem os profissionais, alertando que o uso não deve ser negligenciado.
O bastonário da Ordem dos Médicos diz que em Portugal existe um potencial de investigação sobre esta matéria. “Temos aqui uma janela de oportunidade para fazermos investigação nesta área, em parceria com universidades e hospitais”.
Esta quinta-feira, o parlamento debate a legalização da canábis em contexto medicinal, com o BE e o PAN a defenderem a medida, o PS a dar liberdade de voto aos deputados e o PSD e o CDS a votarem contra.