Investigadores japoneses acreditam ter descoberto uma forma de produzir medicamentos a preços mais acessíveis. Depois de terem modificado geneticamente galinhas, estão a “criar” medicamentos em ovos.
Recorrendo à técnica CRISPR, que permite a edição de genes, estes cientistas modificaram geneticamente galinhas para que estas ponham ovos contendo grandes quantidades da proteína interferon beta, reporta a CNN.
Esta proteína é produzida pelo organismo humano e interfere no processo de multiplicação de fungos, vírus, bactérias e células de tumores, estimulando os mecanismos de defesa do corpo. É usada para tratar várias doenças, desde o cancro à Esclerose Múltipla, mas a sua produção é muito dispendiosa.
Um micrograma de interferon custa entre 300 a mil dólares, ou seja, entre 255 a 850 euros, de acordo com dados da companhia farmacêutica Cosmo Bio, que participou na investigação. Ora o tratamento de uma doença como a Esclerose Múltipla começa com uma dose de 30 microgramas que pode, progressivamente, ser aumentada.
“A produção convencional de interferon necessita de grandes instalações assépticas (estéreis), mas os ovos funcionam como um sistema asséptico de produção de proteínas”, explica à CNN a porta-voz da Cosmo Bio, Mika Kitahara.
Os cientistas recorrem a vários tipos de sistemas biológicos para desenvolverem medicamentos, tais como bactérias, leveduras e células de mamíferos. Contudo, algumas proteínas não se adaptam bem a estes sistemas.
Os ovos, sendo organismos vivos, surgem como uma alternativa que torna a produção de medicamentos “bastante fácil”, refere à CNN a professora Helen Sang, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido.
A produção de interferon poder ser feita a partir de bactérias como a insulina ou de células de ovário de hamster, mas a quantidade obtida por essas vias é mínima. Os ovos parecem ser uma alternativa que permite a produção em massa da proteína, o que acarretará uma descida significativa no seu preço final.
A nova tecnologia, que ainda está a ser desenvolvida pelos investigadores japoneses, pode reduzir o custo da produção de medicamentos contra o cancro em cerca de 90%, refere Kitahara.
Apesar do optimismo dos resultados conseguidos até agora, há ainda um caminho de mais ensaios clínicos e de mais pesquisas a fazer até que o cenário positivo se confirme.
A CNN lembra que a Foog and Drug Administration (FDA), a agência do medicamento norte-americana, já aprovou um medicamento produzido com recurso a galinhas modificadas para o tratamento da Deficiência de Lipase Ácida Lisossómica (LAL), uma doença genética hereditária caracterizada pela insuficiente produção de uma proteína que leva à acumulação de gorduras no fígado, no intestino e noutros órgãos vitais.