Dave McClure é um conhecido investidor de startups, fundador e presidente da 500 Startup, uma aceleradora de empresas tecnológicas em início de vida, que gere fundos de mais de 350 milhões de dólares, angariados aos “tubarões” de todo o mundo. Agora está nas “bocas do povo” e não é por bons motivos. Fora isso, o sexismo está por todo o lado. Até nas Universidades.
Empresas como a Microsoft e a IBM são sócias da 500 Startup, cujo fundador e presidente é Dave McClure. A empresa do empreendedor de 51 anos conta no seu portefólio com tecnológicas de sucesso como a portuguesa Talkdesk.
Mas depois de ter chegado bem lá acima no mundo da tecnologia, Dave McClure pôs-se de joelhos e pediu perdão pelos seus pecados – “I’m a creep and I’m sorry“, disse ele. O capitalista de risco reconheceu que assediou inúmeras mulheres no contexto de trabalho. É certo que agora pediu desculpa e admitiu ser um “cretino”, palavras do próprio, mas isso só aconteceu depois de inúmeras acusações de empreendedoras.
Cheryl Sew Hoy é uma delas. A empreendedora foi até mais longe e acusou McClure de a atacar no seu apartamento e tentar forçá-la a ter relações sexuais com ele.
Depois do escândalo, o presidente abandonou o cargo no início do mês. Mas os factos não se analisam sozinhos: a demissão de McClure surge uma semana depois de Justin Caldbeck, um outro investidor da mesma empresa, ter admitido assediar sexualmente empreendedoras. Estaria McClure com medo?
Antes disso, em fevereiro, um engenheiro da Uber foi acusado do mesmo.
A advogada Therese Lawless que defende e representa algumas engenheiras da Tesla comenta que, em Silicon Valley – uma das mais desenvolvidas partes do mundo, com a mais recente tecnologia a sair de lá – é na verdade muito pouco desenvolvida no que toca ao respeito: “Existe uma cultura mais parecida com as repúblicas de estudantes do que com ambiente de trabalho”.
Outra advogada de mulheres que trabalham nas tecnológicas afirma que estes não são casos isolados: “Acontece a uma escala inimaginável. A maior parte das mulheres com quem trabalhei nas startups têm histórias em que foram assediadas por contacto físico”.
Grandes empresas que ditam a última tecnologia e que têm capacidade para “mudar” o mundo, dada a sua influência, têm histórias de assédio sexual e discriminação – não só contra mulheres, mas também contra negros, já que este é um ambiente largamente controlado por homens brancos.
Agora, como antes – com mais ou menos tecnologia -, o sexismo impera.
Estudo revela sexismo nas universidades portuguesas
Mas não é só em Silicon Valley, um dos lugares mais desenvolvidos no mundo, que existe o sexismo. Um novo estudo mostra que continua a existir uma cultura sexista nas universidades portuguesas, que pode até refletir-se na aprendizagem de alunos e no desempenho de professores.
A investigação será apresentada esta quinta-feira no Centro de Cultura e Intervenção Feminista, em Lisboa, e revela que nos últimos 10 anos, tem existido, nestes estabelecimentos de ensino, um discurso oficial que promove a igualdade e a inclusão.
No entanto, este coexiste “com uma cultura não oficial marcadamente sexista. Em conversas de corredor, reuniões fechadas, em associações de estudantes e em muitas salas de aula, é possível observar diariamente formas mais ou menos explícitas de discriminação, ridicularização e menorização das mulheres e das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT), e da investigação científica que elas desenvolvem”, avança o jornal I.
Maria do Mar Pereira, professora associada no Departamento de Sociologia da Universidade de Warwick e autora do estudo, defende que as manifestações de sexismo são muito preocupantes, pois têm efeitos no quotidiano de quem frequenta os estabelecimentos: “Limitam o conhecimento científico que é produzido, reduzem a qualidade da formação universitária, condicionam o sucesso e oportunidades académicas de muitas mulheres e pessoas LGBT, e afetam a sua saúde e auto-estima”.
“Este sexismo é expresso muitas vezes através de humor, ou de uma ‘cultura de gozo‘. Este humor é visto como uma prática isolada e inofensiva de alguns indivíduos, mas ele é, de facto, uma prática mais generalizada e extremamente nociva, com efeitos muito graves, como este estudo científico vem agora demonstrar”, lê-se no comunicado.