Também a Bélgica foi abalada, em setembro, por um caso de abuso nas praxes académicas. A má conduta levou ao coma uma estudante francesa da Universidade de Liège, originou um processo criminal e lançou um debate sobre tradições universitárias.
No dia 22 de setembro, a jovem estudante de medicina veterinária Fanny Magnin entrou em coma na sequência de um edema cerebral provocado pela absorção de vários litros de água de seguida, tendo acordado dois dias depois.
Fanny foi obrigada a beber litros de água depois de ter recusado a ingestão de bebidas alcoólicas.
Os estudantes responsáveis foram processados por “tratamento degradante e desumano”, a que acrescem ainda “golpes e ferimentos, intencionais ou não”, estando o caso nas mãos do procurador-geral de Liège, Christian De Valkeneer. “Nos batismos académicos, há uma linha vermelha que não pode ser atravessada”, preveniu, citado pela imprensa belga.
O caso, por envolver uma estudante francesa, ganhou dimensão internacional, tendo a ex-candidata à presidência francesa Ségolène Royal apelado publicamente à proibição das praxes na Bélgica, o que lançou um debate que acabou por envolver o primeiro-ministro belga, Elio Di Rupo.
“O batismo de um estudante é uma escolha pessoal. Mas não se pode, em caso algum, atentar contra a integridade física dos estudantes. Temos leis que sancionam os abusos”, respondeu Di Rupo às críticas de Ségolène.
Na Bélgica, há distinção entre duas realidades: o batismo (baptême), ou rito de iniciação, dos estudantes – que é legal e regulamentado – e a praxe abusiva (bizutage), que é proibida por lei.
Também o reitor da Universidade de Liège, Bernard Rentier, sublinhou, em comunicado esta distinção: “o Conselho [órgão da academia], incluindo os representantes dos estudantes, reafirma a sua condenação sem reservas do caráter humilhante e degradante de abusos (“bizutage”) bem como a proibição de quaisquer sevícias psíquicas e/ou físicas”.
As praxes são uma tradição universitária na Bélgica e, adiantou Rentier, “fazem parte do folclore estudantil. Trata-se de uma prova de iniciação perfeitamente codificada” e a que nenhum estudante é obrigado a aderir.
Proibir tais práticas, defendeu o reitor, “seria a melhor maneira de tornar clandestina uma atividade que, normalmente, pode ser adequadamente enquadrada”.
A opinião geral mantém-se no sentido da não proibição das praxes de iniciação tradicionais – enquadradas por regulamentos que ligam os organizadores às autoridades universitárias, nomeadamente as associações de estudantes – e mão pesada nos casos de abuso, previstos na legislação.
Refira-se que os estudantes de veterinária de Liège não integram a associação geral da universidade (AGEL).
Na página online da AGEL pode ler-se que a associação “agrupa as comissões de batismo (à exceção dos veterinários ) e enquadra a sua atividade principal”, ou seja, a praxe. Esta é definida como “uma cerimónia iniciática que permite a um novo estudante (“bleu”/caloiro) de passar do estatuto de caloiro ao de batizado”.
/Lusa
Que giro, só agora aparece esta notícia em Portugal? Procurem bem, talvez encontrem ainda mais casos de praxes no mundo. Ridículo, a forma como toda esta questão está a ser aproveitada para criar um circo mediático. Praxe não é crime e crime não é praxe.
Entre os circos mediáticos e os “pactos de silêncio” prefiro de longe os circos mediáticos. Porque a praxe não é crime. Excepto quando é.