Os contínuos bombardeamentos das forças aéreas síria e russa sobre os bairros orientais de Aleppo (norte), desde sexta-feira, já causaram mais de 50 mortos e “a situação é catastrófica”, alertou um responsável da Proteção Civil.
“A situação é catastrófica. Os aviões têm estado a bombardear a localidade sem interrupção desde ontem. Não há nenhum sítio seguro”, lamentou o porta-voz da Proteção Civil em Aleppo, Khaled Jatid, em declarações por telefone à agência espanhola de notícias, Efe.
Jatid destacou que entre as dezenas de feridos há “cinco capacetes brancos”, como se denominam os elementos deste grupo, que sofreram lesões quando participavam em tarefas de salvamento no bairro de Al Kalads.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos apontou 45 mortos pelos bombardeamentos de aviões sírios e russos no leste de Aleppo, enquanto outras sete pessoas morreram em ataques similares a oeste da cidade.
Em Aleppo, um ativista, Abdallah al-Asani, afirmou à Efe, através da internet, que “a situação é muito má”.
“As pessoas chamaram ao dia de hoje ‘o dia do juízo final‘”, lamentou, relatando que “não há sítio onde as pessoas se possam proteger em Aleppo”. O ativista descreveu que as forças russas estão a atacar a cidade com um tipo de mísseis que causam um grande tremor de terra ao atingir o solo.
A Coligação Nacional Síria, principal aliança da oposição, afirmou hoje, em comunicado, que a Rússia está a utilizar novas armas na campanha militar de Aleppo, apesar de não precisar qual o tipo de armamento.
“As contínuas investidas em Aleppo, uma das cidades habitadas mais antigas do mundo, causaram danos enormes, com o objetivo claro de assassinar e deslocar o máximo número de civis presos” no interior da cidade, disse a coligação, que acusou a comunidade internacional de prosseguir com a sua “inação frente aos crimes atrozes cometidos à luz do dia”.
Além dos bombardeamentos, hoje registaram-se combates entre fações rebeldes e islâmicas e o exército sírio em diferentes partes de Aleppo.
As forças do regime sírio conseguiram entretanto consolidar as suas posições em Aleppo, efetuando o cerco à zona leste da cidade, dominada pelos rebeldes.
Crime de guerra
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou-se “consternado com a escalada militar” em Aleppo, na Síria, nos últimos dias, e avisou que os bombardeamentos podem constituir crime de guerra.
Numa declaração divulgada pelo seu gabinete, Ban Ki-moon cita relatos de ataques aéreos com recurso a engenhos incendiários e bombas de elevada potência na ofensiva lançada pelas forças do regime sírio e do seu aliado, a Rússia, e que tem mantido Aleppo permanentemente sob fogo.
Ban Ki-moon afirma que a “aparente utilização sistemática deste tipo de armas indiscriminadas em áreas com muita população pode constituir crime de guerra”.
“A comunidade internacional deve unir-se para enviar uma mensagem clara afirmando que não tolerará o uso cego de armas cada vez mais mortíferas contra civis”, declara.
O secretário-geral das Nações Unidas refere que Aleppo, a segunda maior cidade síria e a capital económica do país, está a enfrentar o bombardeamento mais intenso e ininterrupto desde o início do conflito” na Síria, há cinco anos, classificando o dia de hoje como “um dia negro para o envolvimento do mundo na proteção de civis”.
Os ataques deste domingo causaram pelo menos 50 mortos e deixaram cerca de dois milhões de pessoas sem acesso a água.
Os bairros tomados pelos rebeldes, na zona leste de Aleppo, enfrentam, pelo quinto dia consecutivo, intensos ataques aéreos e de artilharia, quando o exército se prepara para uma ofensiva terrestre para tentar recuperar o total da cidade dividida.
O reacender da violência em Aleppo ocorre depois de as forças armadas sírias terem dado por terminada, na segunda-feira passada, a trégua de uma semana em todo o país, que nunca chegou a fazer cessar completamente os combates.
Entretanto, o grupo extremista Estado Islâmico anunciou este sábado que abateu na sexta-feira um avião não tripulado (drone) dos Estados Unidos em Al Hasaka (nordeste da Síria), num comunicado divulgado através da agência de notícias Amaq, vinculada aos radicais.
Num vídeo publicado pela agência, cuja autenticidade não foi comprovada, veem-se restos do aparelho supostamente derrubado pelos jihadistas.
O Estado Islâmico proclamou um “califado”, em finais de junho de 2014, na Síria e Iraque, onde controla áreas do norte e do centro.
ZAP / Lusa