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Investigadores identificam relação entre o Zika e a microcefalia

Marcello Casal Jr / ABr

Lucélia Freitas e o filho Crystian, que sofre de microcefalia

Lucélia Freitas e o filho Crystian, que sofre de microcefalia

Um grupo de investigadores eslovenos anunciou esta quinta-feira ter conseguido provar a relação entre o vírus Zika e a microcefalia em bebés, ao investigar o caso de uma grávida eslovena que foi infetada durante uma viagem ao Brasil.

Mara Popovic, do Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina de Liubliana, na Eslovénia, anunciou numa conferência de imprensa que o vírus foi encontrado nos neurónios do cérebro do embrião da mulher, contagiada no início da gestação.

A investigação que prova que o vírus pode passar da mãe infetada para o cérebro do feto e causar microcefalia foi publicada na revista médica The New England Journal of Medicine.

Os investigadores eslovenos garantem ter comprovado que os danos no sistema nervoso central, relacionados com o contágio durante a gestação, são consequência da reprodução do vírus no cérebro do feto, confirmando-se as fortes suspeitas dos especialistas sobre a relação da microcefalia com o vírus.

Os últimos dados das autoridades sanitárias do Brasil, o país mais afetado pelo surto de Zika com até 1,3 milhões de infeções, apontam para um assinalável aumento do número de recém-nascidos com microcefalia na região nordeste do país.

O Governo brasileiro chegou a declarar, no ano passado, um alerta sanitário perante o aumento de casos de microcefalia em bebés recém-nascidos, devido à suspeita de poderem estar associados ao vírus.

Citada pela agência eslovena STA, a investigadora Tatjana Avsic Zupanc, do Instituto de Microbiologia e Imunologia, indicou que o feto pode ser contagiado com o vírus em qualquer fase da gestação, mas que os danos mais graves ocorrem no primeiro trimestre da gravidez.

A diretora da Maternidade de Liubliana, Natasa Tul Mandic, explicou que a prova se fez quando no último trimestre da gravidez da gestante eslovena que esteve no Brasil durante o primeiro trimestre de gestação foram detetadas por ecografia muitas irregularidades no desenvolvimento do feto e da placenta.

Embora então não houvesse ainda qualquer suspeita de que se tratasse do Zika, os médicos começaram a investigar o caso. Devido aos maus prognósticos e aos graves danos no cérebro do feto, a mulher decidiu interromper a gravidez.

A autópsia e as investigações posteriores confirmaram que os problemas no desenvolvimento do cérebro do feto se deveram à infeção pelo vírus, transmitido ao embrião através da placenta.

Um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Liubliana, Marijan Ivanusa, confirmou que a investigação representa “uma peça excecionalmente importante no puzzle para provar que o vírus Zika realmente pode causar microcefalia”.

Contudo, o responsável da OMS sublinha que a investigação não representa algo “dramaticamente novo”, já que ainda não existem medicamentos nem vacinas contra o Zika e a única recomendação que resta é a proteção contra os mosquitos.

“A dificuldade é que é impossível recomendar a milhões de mulheres nas regiões em que o Zika está mais presente que não engravidem. É importante que as mulheres dessas regiões se defendam dos mosquitos e se protejam das suas picadas, e que os médicos controlem as mulheres em gestação e se os fetos estão a desenvolver-se normalmente”, frisou.

ZAP

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