Carne criada em laboratório: afinal, um enorme problema ambiental

Afinal, a carne criada em laboratório prejudica mais o ambiente do que a criação de gado bovino. A solução estará na reinvenção da biotecnologia.

Há uma ideia generalizada de que a carne criada em laboratório é mais ecológica do que a carne bovina natural, uma vez que exige menos gastos de recursos naturais e não há emissão de gases que agravem o efeito estufa.

Mas um estudo publicado em abril, pelo Biorvix, revelou que os atuais métodos de fabrico de carne em laboratório, a partir de células animais, podem ter um maior impacto ambiental do que a criação de gado convencional.

Isso acontece porque a biotecnologia utilizada nos laboratórios – semelhante àquela utilizada para produzir medicamentos – é altamente refinada e pouco sustentável.

“Se as empresas quiserem atingir níveis farmacêuticos de produção, vão usar mais recursos, o que aumentará o potencial de aquecimento global”, disse Derrick Risner, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade da Califórnia e autor principal do estudo, citado pelo Tech Explorist.

Ou seja, a produção de carne laboratorial seguindo as abordagens da indústria farmacêutica, além de sair mais cara, vai agravar a situação ambiental vigente, quando comparada com “a produção convencional de carne bovina”.

Os pesquisadores compararam a energia necessária e os gases de efeito estufa libertados nas atividades agrícolas com todas as fases da produção em laboratório.

Os resultados mostraram que, atualmente, o potencial de a carne de laboratório agravar o aquecimento global é de quatro a 25 vezes mais do que a agricultura.

É necessário um “avanço técnico significativo”

O objetivo futuro da industria laboratorial passa por fazer carne em laboratório, utilizando em grande parte componentes ou culturas de qualidade alimentar, em vez de produtos químicos e técnicas caras e intensivas, à escala farmacêutica.

Os pesquisadores descobriram que, com novas técnicas, o potencial de a carne cultivada em laboratório agravar o aquecimento global pode ser entre 26% a 80% menos do que a produção média de gado.

No entanto, a transição da biotecnologia atual para outras técnicas mais sustentáveis continua a ser o grande problema.

“É possível que possamos reduzir o seu impacto ambiental no futuro, mas isso exigirá um avanço técnico significativo, para aumentar simultaneamente o desempenho e diminuir o custo do meio de cultura de células”, admitiu Edward Spang, um dos autores do estudo e professor do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimento, da Universidade da Califórnia, citado pelo Tech Explorist.

Contudo, o estudo também considera que os investimentos agrícolas sofisticados – em que há técnicas mais ecológicas de criação de gado – podem ser mais rápidos, eficazes e eficientes do que os eventuais avanços técnicos nos laboratórios.

Um dos principais objetivos do Consórcio Davis Cultured Meat, da Universidade da Califórnia – uma rede multidisciplinar de cientistas, engenheiros, empresários e educadores interessados ​​em carne cultivada – é estabelecer e avaliar linhagens de células que possam ser usadas para produzir carne em laboratório.

Miguel Esteves, ZAP //

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