No congresso em que será coroada a sua reeleição, o líder dos sociais-democratas começou por distinguir o seu partido do PS, atacando os socialistas com o que entende ser os falhanços dos últimos anos de governação.
É a sua ideia desde que chegou à liderança do partido e menos subtil não poderia estar no palco do centro de congressos de Santa Maria da Feira: Rui Rio quer um PSD ao centro, onde acredita ter mais possibilidade de vencer as eleições legislativas de 30 de janeiro – roubando diretamente eleitorado ao PS.
Como tal, não demorou muito a esgrimir os primeiros golpes, logo no discurso de abertura da reunião magna dos sociais-democratas. Rio acusou os socialistas de ineficácia e falta de coragem para operar as reformas que, entende, são necessárias para mudar o país e fazê-lo avançar, nomeadamente na área da justiça – área que na última semana esteve particularmente ativa.
“Nas palavras e na propaganda, o PS é um encanto. Na ação, na coerência e na coragem, o PS é, quase sempre, uma desilusão. Se o país depender do PS, pouco ou nada será feito. Naquilo que sozinhos possamos fazer, temos de agir. Não podemos deixar que pensem que somos iguais a eles, porque não somos”, atirou.
Sobre a área da justiça propriamente dita, destacou a “incapacidade para dar uma resposta satisfatória”, sejam pelas longas demoras nas sentenças ou pelas “sucessivas e vergonhosas violações do segredo de justiça”.
“São lindas as palavras que falam em presunção de inocência e em direito à honra e ao bom nome de todo e qualquer cidadão. É feia, muito feia a hipocrisia que aceita com evidente incoerência a grosseira violação quotidiana desses valores do Estado de Direito e da nossa civilização”, analisou.
Um dos temas mais enfatizados do discurso de Rui Rio teve que ver com a descentralização, tópico que há anos valeu um acordo de regime entre os dois principais partidos portugueses. Para o líder dos sociais-democratas, o chumbo do projeto-lei de transferência do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal Administrativo para Coimbra, o qual acabaria por ser chumbado, apesar de os socialistas se terem abstido.
“O PS enche a boca com a descentralização, faz discursos inflamados para agradar a quem reclama um país territorialmente justo equilibrado, mas, na hora da verdade, os socialistas são sempre iguais a eles próprios”, atacou. O tema serviu também foi o mote para Rio criticar e acusar os socialistas de falta de “coragem para honrar a sua própria palavra” – a qual não têm por hábito honrar, defende Rio. “Por norma, o PS não tem qualquer repúdio em dar o dito por não dito ou recusar nas suas próprias propostas.” Caso o PSD chegue ao Governo, apregoou a descentralização será tratada com “coragem” e o foco passará por “inverter as políticas centralistas”.
Finalmente, Rui Rio abordou a vida interna do partido, poucas semanas depois de ter visto a sua liderança legitimada ao vencer Paulo Rangel nas eleições diretas do partido. Começou por dizer que “o PSD não é o seu presidente, nem, tão pouco, os seus dirigentes. “O PSD são as suas bases”, disse, citado pelo Público, dando, de seguida, destaque às conquistas do partido nos últimos anos, sobretudo durante a sua liderança.
É o caso da conquista – há muito aguardada do Governo dos Açores –, o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, a vitória da Câmara de Lisboa “após 14 anos de domínio socialista” e a redução da diferença entre autarquias governadas por PS e por PSD nas últimas eleições autárquicas.