Deputada brasileira acusada de mandar matar o marido. 7 dos seus 55 filhos também são suspeitos

Flordelis Mk / Facebook

A deputada Flordelis com o marido Anderson do Carmo.

A deputada Flordelis com o marido Anderson do Carmo que foi assassinado em 2019 com 30 tiros.

A deputada brasileira Flordelis de Souza, que também é cantora gospel e pastora de uma Igreja evangélica que a própria fundou, é acusada pelo Ministério Público (MP) brasileiro de ser a mandante do homicídio do seu marido, o pastor Anderson do Carmo. Sete dos 55 filhos do casal também são suspeitos.

Anderson do Carmo, de 42 anos, foi assassinado com 30 tiros a 16 de Junho de 2019 dentro da sua própria casa em Niterói, no Rio de Janeiro.

Logo após o homicídio, a polícia prendeu dois dos 55 filhos do pastor evangélico e de Flordelis, de 59 anos – quatro deles biológicos, 3 dos quais do primeiro casamento da deputada, sendo os restantes 51 adoptados.

A polícia começou por deter Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, e Lucas de Souza, que foi adoptado pelo casal, após o primeiro ter confessado a autoria de seis dos 30 tiros que foram desferidos contra Anderson do Carmo. Lucas alegou ter sido ele a comprar a arma do crime.

Na altura, Flordelis alegou que o crime teria ocorrido no âmbito de um assalto violento, enquanto os filhos detidos atribuíram o crime a uma relação extraconjugal do pai – vários dos tiros foram disparados contra a sua zona genital.

Mas as investigações das autoridades imputam, agora, a Flordelis a autoria moral do homicídio, acusando-a de ser a mandante da morte do marido.

A Polícia Civil brasileira também prendeu mais cinco filhos do casal, bem como uma neta, sob suspeita de participação no assassinato.

“Temos 11 pessoas respondendo criminalmente. Levando em conta que a família são 55 [pessoas], temos aí 20% da família envolvida nesse crime“, revela o delegado António Ricardo citado pelo site UOL.

Suspensa do partido deve ser afastada do Parlamento

Das 11 pessoas que estão indiciadas, a deputada é a única que não está presa pelo facto de beneficiar de imunidade parlamentar.

O PSD, o partido a que pertence, já decretou a sua “suspensão imediata” e admite “a expulsão da parlamentar dos seus quadros” conforme “os desdobramentos perante a Justiça”.

Flordelis é deputada estadual, estando a exercer o seu primeiro mandato após ter sido eleita em 2018 com a quinta maior votação entre os deputados do Estado do Rio de Janeiro.

Está indiciada pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e “organização criminosa majorada”.

O promotor do MP Sérgio Pereira, do Grupo de Actuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), fala mesmo de “uma organização criminosa intrafamiliar” que agiu com o intuito claro de matar o patriarca, com vista a “alcançar maior propulsão financeira e política”, como cita o UOL.

“Ela, ao assumir o cargo de deputada, nos parece que se sentiu mais empoderada para levar a cabo esse crime. Vimos tentativas de contratar pistoleiros, matador profissional, chegou a ser pago alguém, mas não foi levado a cabo e por fim o grupo familiar convenceu a executar o pastor quando ele chegava em casa”, aponta Sérgio Pereira.

A polícia deverá encaminhar o processo para a Câmara dos Deputados com vista ao afastamento da parlamentar, para que ela possa responder pelo alegado crime em tribunal.

“Disputa por poder e dinheiro”

“Além de arquitectar todo esse plano criminoso, financiou a compra da arma, convenceu pessoas a praticar esse crime, ela avisou sobre a chegada da vítima ao local, e ela ocultou provas”, aponta o delegado Allan Duarte da Divisão de Homicídios de Niterói, conforme declarações divulgadas pela publicação Isto é.

Quanto às motivações para o alegado crime, Flordelis “estava insatisfeita com a forma como o pastor Anderson tocava a vida e fazia a movimentação financeira“, explica o delegado António Ricardo.

Em causa também pode ter estado uma “disputa por poder e dinheiro na Igreja que ambos fundaram”, como avança a edição brasileira do El País.

A deputada terá tentado matar o marido noutras ocasiões. A imprensa brasileira fala em, pelo menos, seis tentativas de envenenamento falhadas, onde terá contado com a colaboração de alguns dos 55 filhos.

“Começou em Maio de 2018 com tentativa de envenenamento do pastor Anderson. Era feito de forma sucessiva, gradual, cumulativa, para conduzir a morte do pastor. (Era usado) veneno, mais notadamente o arsénico, que era posto na comida e na bebida do pastor de forma dissimulada”, refere o promotor Sérgio Pereira.

Flordelis sempre negou qualquer participação no crime e o seu advogado, Anderson Rollemberg, salienta ao UOL que ficaram “surpresos” com o desfecho das investigações do MP que a colocam como a autora moral do homicídio.

Ainda no passado dia 16 de Agosto, a deputada publicou no seu perfil do Facebook uma fotografia antiga ao lado do marido a par de uma mensagem de amor e de lamento pela perda.

“Hoje faz um ano e dois meses que você se foi deixando um vazio enorme. Ainda estou desnorteada, um pedaço do meu mundo se foi para sempre e parte de mim morreu junto com você”, escreveu Flordelis.

Hoje faz um ano e dois meses que você se foi deixando um vazio enorme. Ainda estou desnorteada, um pedaço do meu mundo…

Publicado por Flordelis Mk em Domingo, 16 de agosto de 2020

Flordelis é pastora e fundadora de uma Comunidade Evangélica baptizada com o seu nome. Em 2002, inaugurou a sua própria Igreja quando já estava casada com Anderson do Carmo e numa altura em que o casal já tinha adoptado 51 crianças.

Tudo começou em 1994, quando Flordelis acolheu e adoptou 37 crianças que viviam na rua e que sobreviveram ao chamado “massacre na Central do Brasil“. Esse episódio deu origem ao filme “Flordelis – Basta uma Palavra para Mudar” que conta com actores como Deborah Secco, Rodrigo Hilbert, Bruna Marquezine, Letícia Sabatella e Cauã Reymond.

Depois do filme, Flordelis conseguiu o primeiro disco de ouro como cantora gospel em 2010. Em 2018, conseguiu ser eleita para a Câmara dos Deputados do Estado do Rio de Janeiro, onde defendeu projectos de lei contra o aborto e contra a exploração sexual de crianças e adolescentes.

ZAP //

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