A economia mundial vai crescer 3,2% em 2019, uma décima menos do que a organização previa há dois meses atrás. A situação pode piorar se houver uma escalada na guerra comercial.
Em relação ao crescimento da economia mundial, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) está pessimista. O crescimento será “medíocre” e poderá ainda ser pior se houver uma escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China a partir do verão.
No Economic Oulook, publicado esta terça-feira, a OCDE prevê que o crescimento global abrande para 3,2% em 2019, acelerando para 3,4% no ano seguinte, ficando abaixo de 3,7% e 3,5% registados respetivamente em 2017 e 2018. A nova previsão para 2019 revê em baixa em uma décima a taxa de crescimento avançada no relatório intercalar publicado em março.
Segundo o Expresso, a previsão da organização para o crescimento mundial é mais baixa em relação às avançadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril e pela Comissão Europeia (CE) em maio.
EUA e Zona Euro
A OCDE revelou-se mais otimista em relação aos Estados Unidos, à Zona Euro e, em particular, à Alemanha e à Itália. Para o espaço da moeda única, a OCDE subiu a previsão de 1% para 1,2% em 2019 e de 1,2% para 1,4% no ano seguinte. Para a Alemanha, considera que a aceleração em 2020 vai ser maior e que a Itália não entrará em recessão em 2019.
Em relação aos Estados Unidos, as previsões para 2019 e 2020 são ainda mais altas entre todas as organizações: 2,8% este ano (mais duas décimas do que apontava em março), face a 2,3% por parte do FMI e 2,4% por parte de Bruxelas; e 2,3% no próximo ano face a 1,9% das outras duas entidades.
No caso de Portugal, a OCDE reviu em baixa o crescimento para 2019, cortando três décimas na previsão, baixando de 2,1% para 1,8%, uma décima abaixo da avançada por Mário Centeno no Programa de Estabilidade 2019-2023. Mas a organização mantém a previsão de 1,9% para 2020, semelhante à do Governo.
Tudo pode piorar com a Guerra Comercial
Um crescimento medíocre pode evoluir muito rapidamente para um crescimento péssimo caso a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China escale.
Com base no seu modelo macroeconómico, a OCDE simula os efeitos negativos no crescimento mundial das medidas entretanto tomadas em maio pelos EUA e da retaliação que entrará em vigor em junho por parte da China e adiciona-lhe uma escalada, eventualmente a partir de julho, para uma guerra comercial total e uma subida do prémio de risco global de 50 pontos-base (0,5 pontos percentuais).
De acordo com o Expresso, o efeito é significativo: uma quebra acumulada de 0,7% do PIB mundial em 2021 e 2022 e um arrefecimento de 1,5% no ritmo de crescimento do comércio mundial. Em termos de efeitos acumulados, de 2019 a 2021, o corte poderá ser de 0,6% do PIB.
Menos crescimento em Portugal em 2019
A OCDE está menos otimista que o Governo português quanto ao crescimento económico e ao défice deste ano, tendo revisto em baixa a estimativa para o PIB para 1,8% e agravado a previsão do défice para 0,5%.
No relatório com as previsões económicas mundiais (Economic Outlook), a organização prevê que a economia portuguesa cresça 1,8% este ano, abaixo dos 2,1% que antecipava em novembro e uma décima abaixo da estimativa de 1,9% do Governo. Já para 2020, a OCDE antecipa uma expansão de 1,9%, o mesmo que antecipava em novembro.
Para a taxa de desemprego, a OCDE antecipa que se fixe nos 6,3% este ano, face aos 6,4% estimados em novembro e abaixo da previsão de 6,6% do Governo, descendo depois para 5,9% em 2020, também abaixo dos 6,3% antecipados pelo executivo.
A OCDE antevê ainda que “o crescimento do investimento empresarial deve permanecer robusto”, enquanto “o crescimento das exportações diminuirá no âmbito do enfraquecimento da atividade económica nos principais parceiros comerciais de Portugal”.
A entidade indica que a redução prevista do crescimento económico em mercados que são destino das exportações portuguesas, como Espanha, Alemanha e Reino Unido, constituirá um “obstáculo ao crescimento das exportações”.
A organização indica que os riscos para Portugal incluem um aperto nas condições financeiras e adverte que, em particular, um aumento nas taxas de juro nos mercados pode afetar os gastos das empresas e famílias e conduzir a um aumento do ‘stock’ de crédito malparado nos balanços dos bancos.
Do lado positivo, a OCDE indica que novas melhorias na competitividade das exportações portuguesas podem resultar em maiores ganhos na quota de mercado.
ZAP // Lusa