Helena Greenwood dedicou parte da sua carreira à descoberta do identificador único no ADN que revolucionou a ciência forense. Anos mais tarde, esta mesma inovação ajudou a condenar o seu assassino.
Em 1985, Helena Greenwood, uma bioquímica britânica pioneira, foi brutalmente assassinada na sua casa no sul da Califórnia. Este crime ficou por resolver durante mais de uma década, até que os avanços na tecnologia do ADN – um domínio a que Greenwood tinha dedicado grande parte da sua carreira – acabaram por identificar o seu assassino.
Greenwood, licenciada na Universidade de Sheffield e doutorada em bioquímica pela Universidade de Londres, mudou-se para os EUA com o marido em 1977. Começou a trabalhar na Syva, uma empresa de diagnósticos médicos, antes de se mudar para a Gen-Probe em San Diego, uma empresa de biotecnologia em fase de arranque centrada em métodos de diagnóstico baseados no ADN.
O seu final trágico começou em 1984, quando foi atacada na sua casa por David Frediani, um analista financeiro com um historial de assaltos em bairros ricos. Frediani apontou uma arma a Greenwood e agrediu-a antes de fugir. Apesar de uma investigação policial conduzida pelo sargento Stephen Chaput, não foram efetuadas quaisquer detenções na altura. Foram recolhidas amostras forenses, mas a tecnologia disponível na altura não permitia identificar um suspeito.
Na Gen-Probe, Greenwood foi cativada pelos desenvolvimentos na “impressão digital do ADN”, iniciada pelo geneticista Alec Jeffreys na Universidade de Leicester. Jeffreys tinha descoberto que as variações no ADN “lixo” podiam servir como um identificador genético único para os indivíduos, semelhante a um código de barras.
Em março de 1985, Jeffreys publicou as suas descobertas na Nature e Greenwood apercebeu-se imediatamente do seu potencial, insistindo com a sua empresa para que prosseguisse com esta tecnologia revolucionária, prevendo as suas implicações na investigação forense e no diagnóstico.
Pouco tempo depois, Chaput recebeu uma pista sobre Frediani, cujas impressões digitais coincidiam com as encontradas em casa de Greenwood. Embora na altura a tecnologia não conseguisse confirmar o ADN de Frediani, o testemunho de Greenwood e as provas circunstanciais levaram a um julgamento.
No entanto, Frediani foi libertado sob fiança e, tragicamente, Greenwood foi assassinada em agosto de 1985, antes de poder testemunhar em tribunal. O seu corpo foi encontrado no jardim da sua nova casa em Del Mar, na Califórnia, e as provas forenses não conseguiram estabelecer uma ligação conclusiva entre Frediani e o crime, escreve o IFLScience.
Frediani cumpriu uma pena reduzida por acusações menores não relacionadas com o homicídio de Greenwood, mas em 1999 o caso foi reaberto como parte de um projeto de San Diego que reexaminava casos não resolvidos com a nova tecnologia de ADN. A técnica que Greenwood tinha defendido em vida oferecia agora uma hipótese de resolver o seu homicídio.
Os cientistas forenses reanalisaram amostras e o ADN recuperado das unhas de Greenwood coincidia com o perfil de Frediani. Desta vez, as provas de ADN colocaram-no definitivamente no local do crime, permitindo uma condenação que tinha escapado aos investigadores durante 14 anos.
Em 1999, Frediani foi condenado por homicídio em primeiro grau, com a análise de ADN a revelar uma hipótese de um em 2,3 quatriliões de o seu ADN corresponder a qualquer outra pessoa. A sua condenação constituiu um marco importante na ciência forense e sublinhou o poder transformador da tecnologia de ADN na obtenção de justiça, mesmo anos após a ocorrência de um crime.