Da Rússia de Putin ao TikTok e ChatGPT. As 10 maiores ameaças globais em 2023

EPA/MIKHAEL KLIMENTYEV / SPUTNIK / KREMLIN

Vladimir Putin

A consultora Euroasia Group elencou as 10 maiores ameaças à estabilidade global em 2023, que vão desde líderes políticos à escalada de inflação, passando ainda pelo desenvolvimento da inteligência artificial.

Um novo relatório da empresa de consultoria política norte-americana Euroasia Group enumera as principais ameaças à estabilidade global em 2023.

No topo da lista está, como seria de esperar, a Rússia comandada por Vladimir Putin. Com o início da guerra na Ucrânia e a crescente tensão com o Ocidente, o receio de uma escalada nuclear no conflito está também a aumentar.

Há ainda a possibilidade de a guerra alastrar a outros países — com Moscovo a já ter ameaçado várias vezes entrar em território da Moldova — e também não se pode negligenciar o impacto que a crise energética gerada pelo boicote ocidental ao petróleo e gás russos está a ter na economia global.

Xi Jinping surge no segundo lugar da lista. O Presidente da China saiu reforçado do Congresso do Partido Comunista em Outubro, mas há várias crises que ameaçam o seu controlo no país, como a alastração da covid-19 e os consequentes protestos da população contra as restrições.

A situação em Taiwan também promete mais sobressaltos. O líder chinês tem repetidamente aludido a uma reunificação para breve e as constantes incurssões militares da força aérea chinesa no sobre a ilha têm feito aumentar a tensão e os receios de que um conflito armado pode estar para breve.

Por sua vez, Biden garantiriu que os EUA vão defender Taiwan em caso de guerra e a visita de Nancy Pelosi ao território já nos deu uma ideia do que pode ainda estar para vir. Dado ser uma das maiores economias do mundo, qualquer crise económica, social ou militar na China vai também garantidamente ter repercussões globais.

A fechar o pódio surgem as armas de disrupção em massa, onde se incluem os avanços tecnológicos no uso de inteligência artificial (IA), que ameaçam “erodir a confiança social, empoderar os demagogos e perturbar os negócios e os mercados”.

O surgimento da IA generativa permite agora que os utilizadores fabriquem imagens e vídeos realistas que vão desfocar ainda mais a linha entre a realidade e as notícias falsas. As deepfakes, a tecnologia de reconhecimento facial e os softwares de síntese vocal vão agravar ainda mais este problema. Antecipa-se ainda que o ChatGPT consiga passar o teste de Turing em breve.

O impacto da escalada de inflação é a quarta maior ameaça. Os preços de practicamente tudo dispararam em 2022 e desencadearam uma enorme perda de poder de compra para os consumidores e uma grande subida nos custos de produção para as empresas.

Para tentar conter a inflação, os bancos centrais têm subido as taxas de juro, o que está a tornar o pagamento dos créditos à habitação incomportável para milhões de famílias. O mundo estará assim à beira de uma nova recessão.

Em quinto lugar surge a crise social no Irão. Já foi há mais de três meses que a jovem Mahsa Amini morreu quando estava sob a custódia da Polícia da Moralidade, que a deteve por estar a usar o véu islâmico incorrectamente.

A morte de Amini gerou uma enorme onda de contestação social, que começou por se focar na defesa dos direitos das mulheres e que já se expandiu até ser um protesto geral contra todas das restrições que a república islâmica impõe à população. As manifestações não têm dado sinais de abrandar.

Teerão também tem reacendido o seu programa nuclear e é um importante aliado da Rússia, fornecendo drones a Moscovo que são usados no conflito na Ucrânia. A tensão do Irão com o Ocidente promete assim continuar a agravar-se.

A seguir, o Eurasia Group aponta a crise energética como a sexta maior ameaça à estabilidade global. Apesar de a subida a pique dos preços do petróleo ter acalmado nos últimos meses, esta volatidade não deve ficar por aqui, muito graças ao conflito na Ucrânia.

“Dois dos três maiores consumidores de energia do mundo, China e Índia, continuarão a comprar grandes quantidades de petróleo russo com um grande desconto. Os EUA responderão atingindo alguns mercados emergentes com sanções secundárias, inflamando ainda mais as tensões entre as economias industrializadas e os mercados emergentes já abalados pela alta inflação, a guerra na Ucrânia, a covid -19 e as alterações climáticas”, relata a consultora.

O anúncio da Organização de Países Exportadores de Petróleo de que vai cortar a produção de petróleo criou uma rara fenda entre os velhos aliados dos Estados Unidos e da Arábia Saudita e Joe Biden prometeu mesmo que “haverá consequências” para esta decisão.

O travão ao desenvolvimento global é a sétima ameaça. Nas últimas décadas, indicadores como a mortalidade infantil, a esperança média de vida ou a literacia têm melhorado por todo o mundo.

Mas este progresso entrou numa tendência de reversão nos últimos três anos graças à pandemia, à guerra na Ucrânia e à escalada de inflação. As Nações Unidas estimam que perdemos cinco anos de progresso devido à pandemia e mais de 90% dos países caíram no índice de desenvolvimento humano em 2020 ou em 2021.

Os Estados “desunidos” da América surgem em oitavo lugar. A nível interno, o país continua profundamente dividido e com constantes ameaças à sua estabilidade democrática. Os próprios americanos reconhecem isto e metade acreditam mesmo que o país será palco de uma nova guerra civil em breve.

A politização cada vez maior da justiça também é um problema, seja com as diversos casos que envolvem Donald Trump e agora Joe Biden, ou com as decisões controversas do Supremo Tribunal — desde a reversão do direito federal ao aborto, o relaxamento das protecções ambientais ou as ameaças à lei eleitoral ao direito à greve, ao casamento homossexual ou ao acesso aos contraceptivos.

Em nono lugar fica o boom do TikTok. A rede social não só serve apenas para partilhar vídeos engraçados ou fotos de gatinhos, como também é um instrumento de organização política e social cada vez mais usado pelos mais jovens.

A geração Z não só é a mais diversa no plano racial da história do Ocidente, como é também uma das mais progressistas — assuntos como o racismo sistémico, a desigualdade de género, a desigualdade económica ou o combate às alterações climáticas são pilares da ideologia de grande parte dos jovens — e o TikTok é fundamental para a disseminação desta informação.

Juntando-se a isto as constantes preocupações e acusações dos Governos ocidentais sobre o que acontece aos dados dos utilizadores da aplicação, dada a origem chinesa do TikTok, há quem acredite que a rede social pode ser mesmo uma arma perfeita de espionagem em massa.

A fechar esta lista está a escassez de água. “Em 2022, o recuo dos níveis de água exacerbou a crise alimentar na África, interrompeu o transporte marítimo e a produção nuclear na Europa e levou ao encerramento de fábricas na China. A escassez de água também forçou os Estados Unidos a limitar as liberações de água nos estados ocidentais e desencadeou agitação social na América Latina, aumentando as tensões entre corporações e comunidades”, lembra a consultora.

“As previsões para 2023 são piores. O stresse hídrico vai tornar-se o novo normal: os níveis dos rios cairão para novos mínimos e dois terços das empresas em todo o mundo enfrentarão riscos hídricos substanciais nas suas operações ou cadeias de abastecimento”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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