Cientistas reconhecem que a marijuana tem efeitos benéficos como medicamento

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Há “provas conclusivas ou substanciais” de que a marijuana tem mesmo alguns efeitos benéficos em termos médicos. A conclusão é de um relatório publicado pelas Academias Nacionais de Ciências, de Engenharia e de Medicina dos EUA.

O documento, com 395 páginas, resulta do trabalho de um comité de especialistas que avaliou mais de 10 mil pesquisas, em torno da marijuana e dos seus efeitos, e concluiu que esta substância pode tratar de forma eficiente a dor crónica e a náusea, provocadas pela quimioterapia, e que também funciona no tratamento dos espasmos associados à esclerose múltipla.

Intitulado “Os efeitos da canábis e dos canabinóides na saúde: o actual estado de evidência e recomendações para a pesquisa” [“The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids: The Current State of Evidence and Recommendations for Research” no título original em inglês], o relatório nota contudo, que é preciso realizar mais pesquisas científicas para apurar com mais clareza os benefícios, e também os riscos, da marijuana.

Os benefícios…

Os investigadores alegam que encontraram “provas” que suportam a ideia de que os doentes tratados com canábis ou canabinóides são “mais propensos a experimentarem uma redução significativa nos sintomas da dor“.

“Para adultos com espasmos musculares relacionados com a esclerose múltipla, houve provas substanciais de que o uso de curto prazo de certos “canabinóides orais” melhorou os seus sintomas”, lê-se ainda no comunicado de divulgação do relatório.

“Em adultos com náuseas e vómitos induzidos por quimioterapia, houve evidências conclusivas de que certos canabinóides orais foram eficientes a prevenir e a tratar essas maleitas”, acrescenta-se.

Os investigadores ainda encontraram “provas moderadas” de que a canábis pode ajudar pessoas com certos distúrbios de sono e “evidências limitadas” para outros benefícios, incluindo no aumento do apetite e na redução da perda de peso em pessoas com VIH/SIDA e no alívio dos sintomas associados ao stress pós-traumático.

… E os riscos…

Por outro lado, o relatório também aponta que foram encontradas “provas substanciais” que ligam o uso precoce de marijuana ao abuso de substâncias no futuro, e que “algumas evidências” sugerem que “pode despoletar um ataque cardíaco“.

“Fumar canábis de forma regular está associado com episódios mais frequentes de bronquite crónica e com piores sintomas respiratórios, tais como tosse e catarro“, afiança ainda o documento, notando contudo, que as “provas sugerem que não aumenta o risco de cancro, muitas vezes associado ao uso de tabaco”.

O comité também conclui que a canábis aumenta a probabilidade de se sofrer acidentes com veículos motorizados e nota que as grávidas que fumam esta droga também têm mais riscos de ter bebés com baixo peso à nascença.

Além disso, pode “aumentar o risco de desenvolver esquizofrenia, outras psicoses e desordens de ansiedade social e, em menor extensão, depressão”, alerta-se no relatório.

Mas no caso de indivíduos esquizofrénicos, pode ajudá-los a terem “uma melhor performance na aprendizagem e em tarefas de memória”.

Os utilizados que fumam canábis de forma regular e persistente têm mais riscos de ter pensamentos suicidas e em indivíduos com desordem bipolar, aumenta os sintomas da doença, quando fumada de forma diária.

Muitos obstáculos legais à pesquisa

O uso da marijuana para fins médicos é legal em 28 Estados norte-americanos, mas o governo federal ainda criminaliza o seu uso e a posse.

E ainda há bem pouco tempo, a agência de drogas dos EUA (a famosa DEA – Drug Enforcement Administration) recusou retirar a marijuana da sua lista de substâncias perigosas.

Esta realidade ainda algo nebulosa é apontada pelo comité de especialistas como um dos entraves às pesquisas mais detalhadas sobre o assunto, colocando vários obstáculos legais aos investigadores e dificuldades no acesso a financiamento.

Há ainda, o problema do fornecimento limitado de canábis para as pesquisas, tendo necessariamente, que ser proveniente de uma quinta gerida pelo governo, o que coloca também dúvidas quanto à qualidade e à variedade das análises.

É que as amostras de canábis são, muitas vezes, congeladas, durante anos, o que pode diminuir a sua qualidade e eventual eficácia ou risco.

Estes detalhes são apontados pelo comité de especialistas que ainda se queixa da diversidade e da falta de padrões de análise de muitos dos estudos feitos sobre a marijuana. Assim, desafia os cientistas a estudarem melhor o assunto.

SV, ZAP //

4 Comments

  1. Muita gente, na sua ignorância e pensamento básico, nem sabe a diferença entre THC e CBD.
    Não é preciso apanhar moca para usufruir dos efeitos medicinais da cannabis. Coisa que quem escreve a notícias deveria fazer notar, mas não convém dizer tudo, não é?! Só meias “verdades”.

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