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Refugiada yazidi teve de fugir da Alemanha depois de se cruzar com o seu raptor

A yazidi de 19 anos fugiu da Alemanha – o país que seria a sua nova casa – depois de se ter cruzado com o seu antigo raptor, um membro do Estado Islâmico que a converteu numa escrava sexual.

Em agosto, o Ministério Público federal alemão confirmou estar a investigar a denúncia de uma jovem refugiada yazidi de 19 anos que dizia ter-se cruzado na Alemanha com o seu antigo raptor, um membro do Estado Islâmico.

Essa jovem era Ashwaq Haji Hami, que acabou por regressar à sua terra natal, no Iraque, por temer que o seu alegado torturador a pudesse voltar a atormentar em solo germânico.

“A jovem foi interrogada, mas a informação que prestou não foi suficientemente precisa”, disse na altura uma porta-voz dos procuradores judiciais alemães, segundo a Associated Press, que entrevistou Hami, já num campo de refugiados perto de Shekhan, no Curdistão iraquiano.

A jovem yazidi disse ter sido raptada pelo grupo terrorista em agosto de 2014, quando tinha 15 anos, sofrendo diversos abusos por parte de um dos elementos, chamado Abu Humam, mas cujo nome verdadeiro seria Mohammed Rashid, segundo a própria.

Foi este homem que, em Mossul, a capital iraquiana do Daesh, comprou esta jovem yazidi por cerca de 100 dólares (86 euros), recorda a Visão. Durante mais de três meses, Ashwaq foi escravizada e abusada sexualmente.

De acordo com a revista, a rapariga garante que conseguiu fugir quando, com a ajuda de outras quatro jovens yazidis, terá colocado soporíferos na comida deste homem e de outros 17 que partilhavam uma refeição noturna.

A fuga permite-lhe reencontrar-se com os pais e, em junho de 2015, chega “mais ou menos sã e salva” à Alemanha. Pelo meio, conta esta publicação, descobre que cinco dos seus irmãos desapareceram sem deixar rasto e que uma irmã continua, até hoje, como prisioneira e escrava do Daesh.

Depois de ter conseguido fugir e de tentar refazer a sua vida, Hami diz ter-se cruzado com Rashid na Alemanha, em fevereiro deste ano, em Schwaebisch Gmuend, a pacata cidade alemã que seria o seu novo lar.

Tudo aconteceu quando, no momento em que voltava a casa, um carro estacionou ao seu lado e o condutor perguntou-lhe, em alemão: “És a Ashwaq, certo?”. A jovem recorda que ficou paralisada e reconheceu o indivíduo da “cara feia e barba ameaçadora”.

No dia seguinte, a jovem apresentou queixa na polícia, onde lhe disseram que “também era um refugiado e que não podiam fazer nada sobre o assunto”. “Deram-me apenas um número de telefone, caso voltasse a incomodar-me. Depois desta resposta, decidi que tinha de voltar ao Curdistão e que jamais regressaria à Alemanha”, conta.

É então que surge a polémica. A história de Ashwaq começou a ser divulgada por vários meios de comunicação e, em sua defesa, a Procuradoria alemã diz estar a decorrer uma investigação, mas alega desconhecer a identidade do suposto refugiado e invoca ainda “pouco rigor” no testemunho prestado pela jovem.

No verão de 2014, o grupo terrorista iniciou uma campanha para exterminar esta minoria curda no Iraque, que contava com cerca de 650 mil pessoas. Dois anos depois, a ONU revelou que este genocídio fez cerca de dez mil mortos. Cerca de três mil yazidis estão dados como desaparecidos, seis mil mulheres e menores foram convertidas em escravas sexuais e aproximadamente 300 mil continuam a viver em campos de refugiados.

ZAP // Lusa

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