Olho por olho ou dente por olho? A visão de três canadianos foi recentemente restaurada com recurso a uma técnica inédita no país norte-americano: a cirurgia “dente no olho”, que tem sido muito bem-sucedida noutros países.
O procedimento, conhecido no meio como osteo-odonto-ceratoprótese, recorre ao dente do próprio doente para criar um implante de lente personalizado para pessoas que sofrem de cegueira grave da córnea, em que apenas a superfície do olho está danificada, deixando a retina e os nervos óticos intactos — uma doença causada, muitas vezes, por cicatrizes conjuntivais.
O dente (normalmente, um canino) é transformado num invólucro de lente, que é depois implantado no olho do doente para restaurar a visão. O material do dente, uma das substâncias mais fortes do organismo, reduz o risco de rejeição associado aos implantes estranhos.
Um dos doentes recentemente curados pelo procedimento perdeu a visão aos 13 anos devido a uma rara reação autoimune a uma medicação. Ao longo dos anos foi submetido a mais de 50 cirurgias, sem sucesso — até agora.
O procedimento consiste em várias etapas, como explica o Popular Science. Primeiro, os cirurgiões colhem um dente, moldam-no numa camada retangular e fazem-lhe um orifício. Uma pequena lente telescópica é colocada no interior do invólucro do dente. Depois, o dente é temporariamente cosido na bochecha do doente durante vários meses para permitir que o tecido cresça à sua volta.
Quando o tecido se integra, uma segunda cirurgia remove o tecido cicatricial do olho e substitui-o por tecido saudável, também retirado da bochecha.Finalmente, o implante é colocado na cavidade ocular, onde ajuda a restaurar a visão parcial.
O método não é novo, no entanto. Foi desenvolvido o início dos anos 60 pelo oftalmologista italiano Benedetto Strampelli, mas tem sido pouco usado ao longo dos anos.
Embora a cirurgia acarrete alguns riscos, tem uma elevada taxa de sucesso nos 10 países onde foi realizada: um estudo italiano de 2022 realizado concluiu que 94% dos doentes mantiveram a visão mesmo 27 anos após a cirurgia.