Vírus que infeta 90% da população mundial pode desencadear o cancro

Um grupo de investigadores descobriu que o vírus Epstein-Barr (VEB) explora as fraquezas genómicas humanas para causar cancro e suprimir as defesas do organismo.

O estudo mostra que a proteína EBNA1 liga-se a um local frágil no cromossoma humano 11, levando à quebra cromossómica e à instabilidade genómica que pode resultar em cancro. Esta descoberta pode ajudar a identificar fatores de risco e desenvolver estratégias preventivas para as doenças associadas ao VEB.

O vírus Epstein-Barr (EBV) é facilmente disseminado através de fluidos corporais, principalmente saliva. Mais de 90% da população mundial já foi infetada, geralmente durante a infância, relatou o Sci Tech Daily.

O VEB causa mononucleose infeciosa e doenças semelhantes, embora muitas vezes não haja sintomas. A maioria das infeções são leves, mas o vírus persiste no corpo, tornando-se latente ou inativo e por vezes reativando-se. As infeções latentes de longa duração estão associadas a várias condições inflamatórias crónicas e a múltiplos cancros.

Num novo artigo, publicado recentemente na Nature, investigadores da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, descreveram pela primeira vez a forma como o vírus explora as fraquezas genómicas para causar cancro, reduzindo ao mesmo tempo a capacidade do corpo de o suprimir.

Estas descobertas mostram “como um vírus pode induzir a clivagem do cromossoma humano 11, iniciando uma cascata de instabilidade genómica que pode potencialmente ativar um oncogene causador de leucemia e inativar um grande supressor de tumores”, disse Don Cleveland, um dos autores do estudo.

Ao longo do genoma de cada pessoa há pontos frágeis, regiões cromossómicas específicas mais suscetíveis de produzir mutações, quebras ou lacunas quando se reproduzem. Algumas são raras, outras comuns; todas estão associadas a perturbações e doenças, por vezes a condições hereditárias.

No novo estudo, Cleveland e colegas concentram-se na EBNA1, uma proteína que persiste em células infetadas com VEB. Sabia-se anteriormente que a EBNA1 ligava-se a uma sequência genómica específica no genoma da VEB.

Os investigadores descobriram agora que a EBNA1 também liga um aglomerado de sequências semelhantes à VEB num ponto frágil do cromossoma humano 11, onde a crescente abundância da proteína desencadeia a quebra cromossómica.

Outras pesquisas anteriores mostraram que a EBNA1 inibe a p53, um gene que desempenha um papel fundamental no controlo da divisão celular e da morte celular. Também suprime a formação de tumores quando normal. As mutações do p53, por outro lado, estão ligadas ao crescimento de células cancerígenas.

Quando os cientistas examinaram dados de sequenciamento de genes inteiros para 2.439 cancros em 38 tipos de tumores, descobriram que os tumores cancerígenos com VEB detetável revelaram níveis mais elevados de anomalias do cromossoma 11, incluindo 100% dos casos de cancro da cabeça e do pescoço.

“Para um vírus ubíquo e inofensivo para a maioria da população humana, identificar indivíduos de risco suscetíveis ao desenvolvimento de doenças associadas a infeções latentes ainda é um esforço contínuo”, disse Julia Li, outra das autoras do estudo.

“Esta descoberta sugere que a suscetibilidade à fragmentação do cromossoma 11 induzida pela EBNA1 depende do controlo dos níveis de EBNA1 produzidos na infeção latente, bem como da variabilidade genética do número de sequências semelhantes ao VEB presentes no cromossoma 11 em cada indivíduo”, explicou.

“No futuro, este conhecimento abrirá caminho ao rastreio dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças associadas ao VEB. Além disso, o bloqueio da ligação EBNA1 neste grupo de sequências no cromossoma 11 pode ser explorado para prevenir o desenvolvimento de doenças associadas ao vírus”, concluiu.

ZAP //

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