Violência para quê? Os chimpanzés resolvem os problemas com sexo

Jake Brooker / Chimfunshi Wildlife Orphanage Trust

Por vezes, quando têm desavenças, os chimpanzés estabelecem contacto sexual

Um novo olhar sobre a vida privada dos chimpanzés revelou que os primatas também resolvem as desavenças fazendo sexo de reconciliação e esfregando os órgãos genitais uns nos outros.

O estudo, publicado esta quarta-feira na Royal Society Open Science, observou que, em alturas de stress social, tanto chimpanzés como bonobos recorrem ao sexo para “fazer as pazes” e restaurar a coesão social.

Tal como acontece com os humanos, este comportamento tem mais que ver com laços sociais do que com algo reservado apenas ao namoro e à reprodução. Algo que, como apontam os investigadores liderada pela Universidade de Durham (Inglaterra), é raro no reino animal.

“Dada a evidência semelhante nos seres humanos, os nossos resultados apoiam a noção de que esta era uma caraterística provavelmente também presente no nosso último antepassado comum”, referem os investigadores, citados pela New Atlas.

Durante sete meses, foram observados 53 bonobos (em três grupos separados) e 75 chimpanzés (dois grupos) que vivem no Santuário Lola ya Bonobo, na República Democrática do Congo, e no Chimfunshi Wildlife Orphanage Trust, na Zâmbia.

Enquanto os bonobos, que são famosos por serem hipersexuais, já eram mais propensos a praticar o chamado “sexo de reconciliação” após períodos de conflito, descobriu-se que os chimpanzés, que alguns consideram como o nosso primo mais agressivo, também usam o sexo para aliviar a tensão.

“Sabe-se que os chimpanzés têm um repertório mais vasto de comportamentos de tranquilização, incluindo o beijo corporal, mas o sexo ainda constituía uma parte considerável da forma como se reconciliavam e do seu comportamento de gestão do stress”, explicou à New Atlas o autor principal do estudo, Jake Brooker.

Além do sexo, os investigadores observaram uma série de comportamentos nunca antes vistos em chimpanzés desavindos, como:

  • toque genital, quer com a mão ou com o pé;
  • contacto genito-genital, em que dois macacos – mais frequentemente bonobos fêmeas – se esfregam mutuamente nos genitais;
  • abanar os testículos entre os chimpanzés, em que os macacos machos abanam os seus genitais em direção a outro macho;
  • e contacto oral-genital, que se verificou em ambas as espécies.

Violência para quê? Com uns beijinhos resolve-se

Como apontam os investigadores, as novas descobertas desafiam o pensamento comum de que os chimpanzés resolvem as suas disputas com agressão e domínio hierárquico. Em vez disso, demonstram um comportamento de ligação social através de atos como o aliciamento e o dar as mãos.

“Contra as suposições de bonobos pacifistas loucos por sexo e chimpanzés agressivos, descobrimos que ambas as espécies usavam o sexo de forma semelhante durante situações tensas, incluindo pares do mesmo sexo”, disse Zanna Clay, da Universidade de Durham, que também fez parte do estudo.

“Ao comparar diretamente as duas espécies em ambientes semelhantes durante duas situações-chave, podemos testar o papel social do sexo nos nossos parentes símios mais próximos e obter uma compreensão mais profunda sobre a forma como pode ter evoluído também na nossa própria espécie“, acrescentou, à New Atlas.

As novas observações sobre os chimpanzés sugerem que o comportamento sexual como ferramenta social é anterior ao ponto em que os humanos, os bonobos e os chimpanzés se separaram uns dos outros na árvore filogenética.

“O facto de ambas as espécies usarem o sexo desta forma fornece uma janela fascinante para o passado, evidenciando ainda mais que, para os humanos, bonobos e chimpanzés, o uso do sexo por razões sociais é algo que herdámos do nosso antepassado comum“, afirmou Jake Brooker.

Miguel Esteves, ZAP //

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