Há 2.000 anos, uma ponte caiu em cima de vítimas de sacrifícios celtas, sugere um novo estudo.
Quando há 2.000 anos, no que atualmente é o oeste da Suíça, uma pequena ponte ruiu, os corpos de 20 pessoas, três vacas e dois cavalos ficaram presos nos destroços.
Mas a questão de saber se este acontecimento foi o resultado de uma inundação catastrófica ou de um elaborado ritual de sacrifício tem intrigado os arqueólogos durante décadas.
Agora, novas pesquisas, incluindo uma análise de traumas esqueléticos e genética, sugerem que a resposta pode ser… ambas.
No final da década de 1960, foram descobertos os restos estilhaçados de uma ponte de madeira sobre o rio Thielle, juntamente com armas de ferro e bronze, cerâmica e duas dúzias de esqueletos humanos e animais.
A maioria dos esqueletos humanos recuperados eram de homens adultos, em alguns casos presos debaixo das vigas da ponte, que foi inicialmente construída em 135 a.C.
Embora uma inundação possa ter desencadeado o colapso, resultando em mortes, a outra interpretação possível é um ritual celta de oferendas de seres humanos e animais sacrificados.
Os resultados de um novo estudo, publicado a 17 de junho na revista Scientific Reports, no qual os investigadores usaram uma variedade de técnicas de análise, sugerem que pode ter havido uma sequência complicada de acontecimentos no local, incluindo tanto sacrifícios como o colapso da ponte.
Os investigadores analisaram os 20 esqueletos humanos para determinar a idade de cada vítima aquando da morte, o sexo e as lesões traumáticas.
Descobriram que a maioria dos mortos era do sexo masculino e que cerca de metade das pessoas tinham sofrido ferimentos provocados por objetos contundentes na altura da morte.
No entanto, a maioria dos ferimentos era no crânio, o que não corresponde aos ferimentos nos membros esperados num colapso, e corresponde mais ao traumatismo craniano infligido por outros.
Estudos adicionais dos restos mortais dos animais não revelaram qualquer indício de traumatismos cortantes, normalmente observados em contextos de sacrifício, que apoiem uma queda acidental de uma ponte.
Segundo o Live Science, a equipa usou também a análise de carbono-14 para datar 11 dos esqueletos humanos, todos eles entre os séculos III e I a.C.
Surpreendentemente, porém, o esqueleto mais antigo foi datado de 361 a 152 a.C., enquanto o mais recente foi datado de 167 a.C. a 7 d.C., o que sugere que os esqueletos encontrados no rio foram lá parar em alturas ligeiramente diferentes, alguns através do acidente que destruiu a ponte e outros através de uma possível execução violenta.
Por outras palavras, algumas das pessoas que ficaram presas debaixo da ponte podiam já estar mortas há muito tempo quando esta ruiu.
Para investigar mais a fundo as pessoas, os investigadores utilizaram análises de isótopos e de ADN nos 10 esqueletos mais bem preservados, para ver se tinham algum parentesco biológico e se tinham crescido noutro local que não a Suíça.
Os isótopos, variações de elementos que têm um número diferente de neutrões nos seus núcleos, tornam-se parte dos dentes e ossos de uma pessoa através da água que bebem e dos alimentos que comem, e podem revelar onde uma pessoa cresceu.
A análise revelou que nove deles eram biologicamente do sexo masculino e que não havia relações genéticas próximas. Além disso, a análise química sugeriu que as pessoas eram descendentes de povos da Europa Ocidental ou Central, mas que algumas delas se deslocaram bastante durante as suas vidas.
No seu conjunto, os indícios apontam para a ocorrência de um acidente violento e súbito na ponte, provavelmente no início do século I a.C.
“Mas esta ponte teve uma vida anterior“, afirma em comunicado o antropólogo Marco Milella, co-líder do estudo, investigador do Departamento de Antropologia da Universidade de Berna, na Suíça.
“Pode ter sido um local de sacrifício, e é concebível que alguns cadáveres tenham precedido o acidente. Não há razão para escolher entre as duas alternativas”, conclui Milella.
Já naquele tempo havia grunhos a lixar a vida ao próximo. Tristeza!