Venezuelanos fizeram “marcha do silêncio” para homenagear vítimas dos protestos

durdaneta / Flickr

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A aliança opositora Mesa de Unidade Democrática disse este sábado que, apesar de ter podido marchar de forma pacífica até à sede do Episcopado de Caracas, os protestos vão continuar até ser revertido o “golpe” do Supremo Tribunal.

“É importante que se entenda que apesar de ter sido uma conquista chegar ao município Libertador a tarefa não foi concluída a 100%”, disse o autarca da oposição do município de El Hatillo, David Smolansky, numa conferência de imprensa.

O dirigente recordou que “continua a haver pessoas detidas, continua a haver suspensão de eleições, continua a existir uma crise humanitária e continua a desconhecer-se a Assembleia Nacional com este golpe de Estado”.

Esta luta continua, esta luta é firme, com coragem e resistência”, disse.

Smolansky disse que hoje, dia de pausa dos protestos, a população será informada acerca da manifestação de segunda-feira, apelidada de “plantão nacional”.

O autarca salientou também que a marcha de sábado, em que participaram milhares de pessoas, aconteceu sem incidentes, e indicou que isso demonstra que as manifestações convocadas pela oposição são pacíficas.

“Fica demonstrado mais uma vez que a violência veio da parte de Nicolás Maduro (Presidente de Venezuela), que a violência vem destes grupos paramilitares, que conhecemos como coletivos armados, que a violência surgiu quando se deu ordem para chegar”, afirmou.

O protesto foi apelidado de “marcha silenciosa” em honra das pessoas que morreram nas manifestações anti-governamentais ao longo das últimas três semanas.

Apenas um grupo de venezuelanos que tentou caminhar na autoestrada Francisco Fajardo — a principal via rápida de Caracas – foi repelido com gás lacrimogéneo, sem se registarem feridos.

No entanto, no final da marcha, grupos encapuzados fecharam uma rua no leste da cidade, com barricadas de lixo e chamas e, ao serem repelidos com gás lacrimogéneo, responderam com pedras.

Quase todos os protestos das últimas semanas foram reprimidos pelas forças de segurança, que lançaram gás lacrimogéneo e tiros, e em muitos casos terminaram com confrontos entre manifestantes e polícia.

Nestes protestos morreram 22 pessoas, 12 delas na noite de quinta-feira, em que ocorreram saques a espaços comerciais no bairro de El Valle, oeste de Caracas, além de centenas de feridos e mais de 500 detidos, segundo a organização não-governamental Foro Penal Venezuelano.

Governo distribui sacos de comida

Quase dez mil sacos com produtos básicos foram entregues a 9.800 famílias da comunidade de El Valle, no oeste da capital venezuelana, anunciou o ministro da Alimentação venezuelano, Rodolfo Marco Torres.

A entrega faz parte de um programa de venda de alimentos racionados, lançado pelo Governo liderado por Nicolás Maduro em 2016, para contrariar a escassez de produtos básicos no país.

Nos confrontos de quinta-feira, vários estabelecimentos deste populoso bairro de Caracas foram saqueados, tendo morrido nove pessoas eletrocutadas e outras três por ferimentos de bala, de acordo com as autoridades.

Outras seis pessoas ficaram feridas por armas de fogo, entre as quais quatro elementos das forças de segurança.

Localizado no mesmo bairro, o hospital materno-infantil Hugo Chávez, com 170 camas, também foi afetado.

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), no Governo, convocou os chavistas para, no domingo, ajudarem a “construir” as zonas que foram atacadas pela “direita” nos últimos dias.

A lusodescendente que enfrentou um tanque

Ficou conhecida nas redes sociais como “Senhora Liberdade”, uma mulher que enfrentou os “Rinocerontes”, como são conhecidos os veículos que visam conter os distúrbios e manifestações.

No passado dia 19 de abril e durante as manifestações, os veículos seguiam na rua Francisco Fajardo, em Caracas, quando a mulher misteriosa decidiu fazer frente às forças de segurança.

A atitude desta mulher, que muitos consideram heróica, contrasta com a falta de informações sobre a mesma. Especulou-se, logo após os protestos de quinta-feira, que pudesse ter sido detida pelas autoridades.

A identidade da mulher, com uma bandeira da Venezuela amarrada ao pescoço, não foi revelada pelas autoridades mas uma apresentadora de televisão venezuelana disse tratar-se de uma senhora que é filha de imigrantes portugueses.

“A senhora está em casa, graças a Deus. Não posso dar detalhes sobre os seus dados pessoais para proteger a sua identidade e segurança”, escreveu Karen Ferreira, na conta pessoal no Instagram.

“Contou que se encomendou a Deus, que sabia que a protegeria e que a sua luta é para voltar a ter o país maravilhoso que conseguiu com os pais quando emigraram de Portugal”, acrescentou aquela apresentadora de televisão.

Em diversas páginas de internet e nas redes sociais propagam-se os rumores de que se trata de uma mulher chamada Maria José, e que deverá passar a apresentar-se à polícia de 15 em 15 dias por ter “enfrentado” as autoridades.

Vários jornalistas tentaram falar com a lusodescendente mas esta remeteu-se ao silêncio, agradecendo apenas a todos os que apoiam e saúdam a sua ação na passada quarta-feira.

Enquanto os apoiantes de Maduro se referem à mulher como “uma irresponsável” ou “golpista”, ou apenas alguém que procurava protagonismo no meio dos protestos, o certo é que se mantém a dúvida sobre a sua verdadeira identidade, apesar do seu rosto ter ficado registado em vários vídeos e fotografias.

É melhor não sabermos o seu nome. Para que não a persigam. O melhor é chamarmos-lhe Senhora Liberdade”, refere um dos utilizadores nas redes sociais, citado pela BBC.

ZAP // Lusa / Bom Dia

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