A aranha armadeira, a espécie mais temida no Brasil, pode afinal ter mais um propósito do que apenas deixar mal quem a chateie. Cientistas brasileiras descobriram que pode ser a solução para homens que sofrem de disfunção erétil.
Segundo o El Español, esta aranha vive perto das povoações, esconde-se em sítios escuros e deixa em mau estado as pessoas que se atravessam no seu caminho. É que uma simples picada provoca dores intensas em todo o corpo, suores, taquicardia, hipertensão e vómitos. Aliás, no caso dos mais velhos, crianças e pessoas com um estado de saúde mais frágil pode provocar até a morte.
No entanto, em 1987, cientistas da Fundação Ezequiel Dias (FUNED), em Minas Gerais, descobriram uma parte do corpo dos homens que é especialmente atingida: o pénis. A dor intensa nessa zona é associada a uma ereção prolongada, um fenómeno conhecido na Medicina como “priapismo”.
E isto não tem de ser necessariamente mau porque, segundo os resultados desta equipa de investigadoras, o veneno da aranha pode vir a ser uma solução para os homens com disfunção erétil e, sobretudo, para aqueles que sofrem de problemas cardíacos e não podem tomar Viagra.
A responsável por esta investigação é Marta do Nascimento Cordeiro, uma bioquímica de 76 anos que, apesar de já estar reformada, continua empenhada em acabar com este problema de saúde que afeta tantos homens, conta o jornal espanhol.
“No geral, ao fracionar todos os venenos encontramos moléculas com efeitos terapêuticos interessantes. É o caso da Phoneutria Nigriventer“, explica a investigadora. Este é o nome científico desta aranha que, além de “armadeira”, também é conhecida por “aranha bananeira” no Brasil por se esconder nas caixas onde se guardam as bananas.
A investigadora, juntamente com a também cientista Marcia Helena Borges, dedicou os últimos anos a tentar isolar a molécula responsável pela ereção, algo bastante difícil porque os cobaias usados “apresentavam priapismo mas morriam em poucas horas”.
Com a ajuda de Maria Elena de Luisa Pérez, investigadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), finalmente conseguiram chegar ao pretendido. Dos 48 aminoácidos responsáveis pela ereção, sintetizaram diferentes sequências e, por fim, conseguiram uma constituída por 19 aminoácidos que provoca a ereção (mas os cobaias sobrevivem).
Esta descoberta foi patenteada e vendida a uma farmacêutica, por isso, a cientista responsável pela investigação acredita que “dentro de três ou cinco anos, a solução para os problemas de disfunção erétil pode estar encontrada”. No entanto, “não depende só de nós, a indústria tem de investir”, alerta.
A investigação à volta do veneno da aranha pode também ajudar a desenvolver outros medicamentos como, por exemplo, analgésicos, neuroprotetores e inseticidas.