Vem aí fogo de artifício: saiba o que fazer quando o seu animal de estimação fugir a sete pés

ZAP // DALL-E-2

Medicação nem sempre é a solução para a resposta genética do animal ao som. Aconselha-se preparação para o fogo de artifício meses antes, mas se não foi a tempo, ainda há maneiras de proteger o seu amigo.

Nas últimas semanas de dezembro, o interesse por um medicamento específico costuma aumentar nos sites de pesquisa da Internet.

O sedativo acepromazina é visto como uma alternativa para aliviar o stress de cães e gatos que sofrem com o barulho e luzes dos fogos de artifício.

Esses incómodos relacionados ao lançamento de foguetes representam um perigo para a saúde dos animais de estimação: podem trazer efeitos imediatos, como fugas, atropelamentos e convulsões, ou de longo prazo, como doenças cardíacas, imunológicas e metabólicas.

Muitas vezes, na tentativa de aliviar o animal de estimação, os donos acabam por recorrer a medicamentos anestésicos e relaxantes, mas o uso desses fármacos também representa uma ameaça aos animais.

Sem a orientação de um médico veterinário, certas substâncias podem causar sérios efeitos secundários. A própria acepromazina é um exemplo disso: apesar de o animal parecer mais relaxado e sonolento após receber o tratamento, continua com os sentidos a funcionar a 100%.

Ou seja: na prática, o animal continua a ver e a ouvir todos os estímulos visuais e sonoros ao seu redor — apenas não consegue reagir com os comportamentos esperados, como correr, esconder-se, procurar os donos, ladrar ou miar.

“Além disso, o retorno do cão ou do gato ao estado normal após a acepromazina não é muito agradável”, diz o veterinário Guilherme Soares, professor da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. “Alguns ficam com alucinações e desenvolvem comportamentos compatíveis com uma crise de dor de cabeça”, afirma o especialista.

Mas afinal por que é que alguns cães e gatos têm tanto medo de fogo de artifício?

As origens do stress

As luzes e os barulhos dos fogos de artifício representam um forte estímulo visual e sonoro para diversos animais e vêm de dispositivos acionados precisamente à noite, no momento em que as coisas tendencialmente estão mais calmas, escuras e silenciosas na natureza.

Também é importante ter em mente que a visão e a audição de gatos, cães e outras espécies costumam ser mais sensíveis do que as dos seres humanos. Eles conseguem captar muito mais estímulos do ambiente — e o que é um ruído para nós, torna-se um barulho ensurdecedor para outros seres vivos.

O veterinário aponta que o medo dos fogos de artifício tem raízes genéticas e evolutivas.

“No passado, os animais que fugiam do barulho sobreviveram para deixar descendentes. Isso nem sempre acontecia com aqueles que não reagiam da mesma maneira”, compara.

“Os primeiros meses de vida também são decisivos para isso: a infância é um período crítico. Se, enquanto cachorro jovem, teve alguma experiência positiva em relação aos barulhos, tende a desenvolver menos comportamentos patológicos a partir daí”, diz o veterinário.

Vale destacar, portanto, que nem todo cão ou gato desenvolve essa reação acentuada de stress e medo diante do lançamento de foguetes. O comportamento varia muito de acordo com cada animal.

Uma revisão de estudos realizada no Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, destaca uma pesquisa que inquiriu 383 donos de cães.

Desses, 49% disseram que os seus animais de estimação tinham alguma resposta específica quando expostos aos ruídos.

Em 96,8% desses casos, os sinais eram de medo, como procurar os donos para se proteger, tremer, esconder-se, fugir ou ladrar.

“Dos cães que apresentaram fobia de ruídos, 83% tinham medo de fogos de artifício, 65% de sons de tempestades, 30% de sons produzidos por armas de fogo, 28% de sons de escape de carro, 18% de outros ruídos ambientais altos e 12% de barulhos altos na televisão”, calcula o artigo. E estes incómodos têm consequências imediatas e a longo prazo.

Durante eventos barulhentos, gatos e cães têm uma diminuição do bem-estar e ficam mais agressivos ou retraídos. Alguns podem até sofrer convulsões.

“Com o tempo, os animais mais suscetíveis ainda sofrem com baixas na imunidade, doenças cardíacas e até problemas no metabolismo relacionados a quadros como o diabetes”, descreve Soares.

O que fazer?

Soares sugere que os donos comecem a preparar-se com alguns meses de antecedência, se possível.

“Se perceber que o cão ou o gato tem problemas com barulhos, vale a pena procurar um especialista três ou quatro meses antes [do período de festas]”, orienta Soares.

“Com isso, já é possível implementar treinos e mudanças comportamentais. Em alguns casos, também prescrevemos medicamentos”, relata.

Como mencionado no início do artigo, o uso dos fármacos depende de cada caso e deve sempre respeitar a orientação e a dosagem prescrita pelo veterinário, para minimizar o risco de efeitos secundários indesejados.

As medicações que os profissionais costumam prescrever nestes cenários não são os sedativos ou anestésicos. A primeira opção pertence à classe dos ansiolíticos, que ajuda a diminuir a ansiedade.

Para as pessoas que não conseguiram planear com antecedência, recomenda-se uma série de estratégias que auxiliam na passagem de ano.

A primeira delas é manter o animal num espaço mais calmo e tranquilo da casa, que tenha o menor contacto com os ruídos do exterior.

Se possível, vale a pena deixar som ambiente na hora dos foguetes — colocar uma música relaxante ou deixar a televisão ligada com o volume baixo são algumas das ideias.

“Também podemos usar alguns auscultadores desenvolvidos para os animais, que abafam um pouco o som externo”, acrescenta.

“Alguns animais sentem-se mais confortáveis com a presença dos donos. Assim, fazer companhia nesses momentos pode ajudá-los”, diz o veterinário.

Na hora de selecionar o melhor compartimento da casa para manter os animais protegidos das luzes e dos barulhos, também é importante atentar-se à segurança: para evitar fugas ou acidentes, confira se janelas e portas estão bem fechadas.

Por fim, o veterinário pede que os donos estejam atentos a sintomas prolongados, que indicam algo mais sério. “Se os animais deixam de comer, beber água e fazer fezes ou urina por muito tempo, é importante fazer uma avaliação”, conta.

“A passagem de ano é um momento em que a maioria das pessoas está feliz e a celebrar. Mas temos que pensar que a nossa festa pode ser uma fonte de aflição para outros seres que vivem perto de nós”, conclui.

// BBC

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