Após mais de dez anos de preparação, uma equipa liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) ditará os comandos de controlo do telescópio Euclid durante os seis anos desta missão espacial.
A missão espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA), irá embrenhar-se nos últimos 10 mil milhões de anos da história do Universo, e o lançamento está previsto para este sábado, dia 1 de julho, às 16:11, hora de Portugal Continental.
É a primeira missão espacial desenhada para tentar compreender porque é que o Universo se está a expandir de modo acelerado.
Para isso, o telescópio espacial Euclid vai observar durante seis anos mais de um terço do céu e produzir o mais vasto e exato rastreio a três dimensões de galáxias alguma vez realizado.
Desde 2012 que Portugal participa nesta missão, no âmbito do grupo de rastreios do Consórcio Euclid, organização que reúne 300 instituições de 17 países.
Uma equipa do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) produziu o software que gera o cronograma das cerca de 50 000 observações que o telescópio efetuará durante os seis anos da missão.
Este planeamento feito ao segundo, implementado num programa informático por João Dinis, do IA e Ciências ULisboa , é uma peça fundamental para toda a ciência e instrumentação do telescópio.
Ismael Tereno, do IA e Ciências ULisboa, membro do Grupo de Coordenação do Consórcio Euclid, lidera a equipa que, com a entrada na fase de operações, entregará regularmente à ESA os planos de observação.
Estes planos serão usados pelo centro de operações de voo para comandar o telescópio no espaço durante os próximos seis anos, trabalho que foi contratualizado com a ESA e tem o financiamento da Agência Espacial Portuguesa.
“É a primeira vez que uma equipa nacional tem a responsabilidade de definir e calendarizar o plano de observações de uma missão do programa científico da ESA durante o seu voo”, diz António da Silva, do IA e Ciências ULisboa e membro da Direção do Consórcio Euclid.
“Esta responsabilidade demonstra a qualidade e reconhecimento internacional que os investigadores e instituições nacionais têm vindo a adquirir também nesta área do sector científico espacial português, com o apoio da Agência Espacial Portuguesa”.
O telescópio espacial Euclid irá estudar o lado escuro do Universo. Os dados obtidos poderão revolucionar o que sabemos sobre a força da gravidade, mas também poderão trazer novos conhecimentos noutros domínios.
“É previsível que grande parte da atividade científica dos centros de investigação europeus em cosmologia nos próximos anos esteja centrada na exploração dos dados da missão Euclid”, afirma Ismael Tereno.
Jarle Brinchmann, do IA e da Universidade do Porto, membro fundador do Grupo de Coordenação do Consórcio Euclid e coordenador do Legado Científico, acrescenta: “O Euclid irá fornecer a visão do céu de referência em alta resolução durante muitos anos, e os campos profundos do Euclid permitirão aos cientistas sondar o Universo até às suas primeiras épocas.”
O IA coordena também os grupos científicos que irão utilizar os dados obtidos com este telescópio para outros objetivos para além do foco da missão, como saber como é que a matéria visível se relaciona com os vastos halos de matéria escura, ou até detetar asteroides que cruzam o plano do Sistema Solar, para além de descobertas que não é possível ainda imaginar.
O lançamento, a que Ismael Tereno irá assistir presencialmente, será realizado a partir da estação espacial no Cabo Canaveral, Flórida (EUA), num lançador Falcon 9 da SpaceX.
O telescópio irá depois viajar durante quatro semanas até um milhão e meio de quilómetros da Terra, para um ponto estável do sistema Terra-Sol, designado Ponto de Lagrange 2 (L2). As primeiras imagens públicas são esperadas em novembro de 2023, e dados científicos preliminares em dezembro do próximo ano.
“O envolvimento que o IA teve e continuará a ter, e que será fundamental para o sucesso da missão, é apenas outro exemplo das competências que a academia portuguesa tem desenvolvido ao longo dos anos, com o know-how necessário para coadjuvar ou mesmo liderar operações com os maiores nomes europeus e corresponder às expectativas”, afirma Marta Gonçalves, responsável por projetos científicos na Agência Espacial Portuguesa.
Há também participação da indústria portuguesa nesta missão através de contratos com a ESA.
“Portugal contribuiu de forma decisiva para a componente industrial da missão Euclid através de diversas empresas, nomeadamente a FHP, Altran, GMV, Active Space, Deimos e Edisoft”, diz Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa.
“Além do relevante resultado financeiro, estas empresas, que desenvolveram diversos componentes tecnológicos para os módulos da missão, colocaram em evidência as capacidades e a competitividade do ecossistema espacial português nacional.”
// I.Astro