Mostrar às pessoas como funcionam as técnicas de manipulação pode criar resiliência contra a desinformação.
Desinformação. Que palavra tão comentada ao longo dos últimos anos. E não foi só por causa de Donald Trump.
A internet veio facilitar muito o acesso à informação – mas também veio facilitar muito a publicação (e o consumo) de notícias falsas.
Praticamente duas em cada três pessoas cruzam-se regularmente com informações falsas ou enganosas, na internet, de acordo com um estudo realizado em 2022 pelo Poynter Institute for Media Studies.
Há maneira de evitar isso? De saber fugir às notícias falsas? Foi o que o portal Scientific American tentou perceber com o psicólogo social Sander van der Linden, da Universidade de Cambridge (Reino Unido).
Van der Linden estuda como e porque as pessoas partilham essas informações e se pode travar fluxo – esse “vírus”, segundo o próprio. Tal como um vírus ataca os pontos fracos das nossas células, acontece o mesmo com a mente. A desinformação infecta as nossas memórias e influencia as decisões que tomamos.
Então, se a desinformação é como um vírus, que se espalha descontroladamente, também há-de existir uma vacina, pensou.
Essa “vacina” chama-se pré-bunkin, ou pré-fuga. É um processo em dois passos.
O primeiro é o aviso, que activa o sistema imunológico psicológico (que está quase sempre a dormir) e que avisa que alguém pode querer manipulá-las – e isso aumenta o cepticismo e a consciência.
O segundo passo é o que se faz numa vacina: inserir uma dose enfraquecida do vírus. Neste caso, recebemos uma pequena dose da desinformação e dicas de como refutá-la. Isso pode ajudar as pessoas a serem mais resilientes contra a desinformação.
No geral, estudar e perceber as técnicas gerais de manipulação de informação ajuda a fugir das notícias falsas. Nem que seja num jogo com esse objectivo.
Um exemplo: vídeos. Foi publicada uma série de vídeos, em parceria com o Google, sobre as técnicas de manipulação no YouTube. Uma delas é uma falsa dicotomia, ou falso dilema. É uma táctica comum: alguém diz que a pessoa só tem duas opções e só pode escolher uma. “Ou juntas-te ao Estado Islâmico, ou não és um bom muçulmano”. Falso. E os políticos também usam esta abordagem: “Temos que resolver o problema dos sem-abrigo na nossa cidade, antes de começarmos a falar sobre imigrantes”.
Se nos cruzamos com estas aparentes dicotomias, o “radar” deve ser logo activado: podem estar a tentar enganar-nos.
Além dos falsos dilemas, há o bode expiatório – quando nos tentam convencer que aquela pessoa, ou empresa, ou grupo é realmente culpado por algo e, na verdade, não é.
Outra técnica muito frequente é a utilização de uma linguagem emocionalmente manipuladora – simular emoções para atingir mais facilmente o público-alvo, que se sente comovido (ou frustrado, ou irritado) como aquela pessoa.
Muitas pessoas pensam que estão imunes às notícias falsas. Mas a verdade é que, na maioria dos casos e na maioria das pessoas, aceitamos as informações como verdadeiras. Porque, se questionarmos tudo que ouvimos ou lemos…não faríamos mais nada na vida.