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Uma prostituta fez as pirâmides eretas: a anedota contada pelos antigos egípcios

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Tal como fazemos hoje, também os antigos egípcios recorriam ao humor para apresentar teorias explicativas do inexplicável. Foi uma prostituta quem ergueu as pirâmides, feitas de excrementos de ovelha empilhados, dizem antigas anedotas.

Enquanto as pirâmides do Egito são globalmente celebradas como maravilhas arquitetónicas e símbolos da civilização antiga, uma tese de doutoramento recentemente analisada e agora partilhada pelo IFL Science sugere que os antigos egípcios tinham uma perspetiva bastante irónica sobre as estruturas icónicas.

Alex Tarbet, um estudante da Universidade do Michigan, explorou antigas piadas e contos populares registados pelo filósofo grego Heródoto durante as suas viagens pelo Egito no século V a.C. Entre os contos está uma espécie de anedota sobre a construção de uma pirâmide situada perto da Grande Pirâmide de Gizé.

Construída pelo faraó Khufu, também conhecido como Quéops, a história afirma humoristicamente que a pirâmide foi financiada por pedras dadas por homens que visitaram a filha de Khufu, forçada a cumprir a função de prostituta devido aos problemas financeiros do faraó.

Segundo a narrativa, a filha de Khufu “pedia a todos os homens que tinham sexo com ela para lhe dar uma única pedra”, que depois se tornava parte da construção da pirâmide (sendo que a piada, claro está, moraria no número “infinito” de homens com que a filha de Khufu teve de dormir para construir edifício de tal grandiosidade).

Realeza herda sémen e fezes: uma forma de partilhar o legado das pirâmides com os trabalhadores

Tarbet explica que estas e histórias semelhantes emergiram provavelmente do desdém público por estas estruturas megalíticas, vistas como tributos ao ego e à arrogância de governantes como Quéops.

As pirâmides, acrescenta o estudante, eram construídas pelas mãos de camponeses em dificuldades e por essa razão pouco populares e queridas entre os habitantes locais, alguns dos quais se recusavam até a pronunciar o nome de Quéops. Em vez disso, referiam-se às pirâmides usando o nome de um pastor local, traçando uma comparação humorística entre as estruturas e excrementos de ovelhas empilhados.

Estas narrativas serviam, vale lembrar, um propósito para além do humor, argumenta Tarbet: permitiam à população reivindicar o significado cultural das pirâmides.

Num outro conto em tom de anedota, Setne, o filho favorito de Ramsés, o Grande, é retratado como uma figura risível, frustrado na sua tentativa de dormir com uma sacerdotisa e encontrado nu numa rua com os seus genitais num penico. Tarbet sugere que estas histórias procuravam subverter as narrativas grandiosas em torno de figuras como o próprio Setne, transformando-os em objetos de ridicularização.

Trata-se de usar o humor como uma ferramenta para recuperar o controlo sobre a narrativa dos seus monumentos e figuras mais icónicos. A realeza herdava “o sémen e as fezes de todos os trabalhadores descontentes”, remata Tarbet, garantindo que o conto destas grandiosas estruturas era partilhado e não monopolizado.

Tomás Guimarães, ZAP //

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