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Uma improvável cidade europeia é o novo destino preferido dos nómadas digitais

Wikimedia Commons

Bansko, Bulgária

Será verdade que os nómadas continuam a preferir as cidades costeiras?

 

Ao chegar pela primeira vez à cidade de Bansko, no sudoeste da Bulgária, pode sentir-se transportado para uma época mais simples.

Cegonhas fazem ninhos nos postes de telefone, grupos de avós com lenços na cabeça conversam atrás das macieiras nas esquinas, ciganos em carroças fazem estalar os seus chicotes sobre os cavalos pelas ruas.

Acima dos telhados vermelhos, os cumes nevados das montanhas Pirin elevam-se sobre as encostas cobertas de pinheiros, dominando a cidade e a sua estação de esqui como um dragão agachado com as asas abertas.

Mas, num dia quente no início do verão, mais de 700 empresários e freelancers encheram os cafés da cidade provinciana com 10 mil habitantes. Era possível ouvir os mais variados idiomas, do hebraico ao japonês.

Num imóvel na praça central, um jovem alemão enumerava os benefícios da semana de trabalho de quatro dias para um auditório cheio, enquanto, no parque local, centenas de nómadas digitais observavam os seus companheiros a discutir temas variados, como Inteligência Artificial, estratégias de networking e dicas de saúde.

À noite, um grupo efusivo de pessoas dançava e bebia num bar ao ar livre.

“Centro de trabalho remoto com crescimento mais estável do mundo”

Agora no seu quarto ano, a Festa Nómada de Bansko (Bansko Nomad Fest, em inglês) começou como uma pequena reunião e hoje é a maior celebração anual do estilo de vida nómada digital do mundo.

O festival dura uma semana e inclui dezenas de palestras transmitidas ao vivo, jantares em grupo e atividades como festas à beira da fogueira e rafting — tudo organizado por um pequeno exército de voluntários.

A crescente população nómada digital de Bansko é mais visível durante o festival, mas esta é apenas uma parte da história. Segundo o portal Nomad List, há cinco anos que a cidade é “o centro de trabalho remoto com crescimento mais estável do mundo”.

Desde 2018, cresceu 231% – mais do que Madrid, em Espanha; mais do que a capital da Polónia, Varsóvia; e mais do que Talin, a menina dos olhos da imprensa tecnológica, na Estónia.

Esta parece ser uma situação um tanto atípica: afinal, as pesquisas indicam que os nómadas digitais costumam preferir cidades costeiras (como Lisboa ou Barcelona), ilhas e praias (como a ilha da Madeira, Canárias ou Bali, na Indonésia). Por que razão cada vez mais pessoas procuram um pequeno retiro montanhoso no interior da Bulgária?

Como tudo começou

Esta história começou com o empresário alemão Matthias Zeitler, que chegou a Bansko em 2016, quando investigava lugares para organizar um espaço de coworking.

A região atraiu Zeitler pelas suas belezas naturais e benefícios práticos: Wi-Fi rápido, custo de vida acessível e impostos baixos — apenas 10% para pessoas singulares e coletivas, um dos níveis mais baixos da Europa.

“Viemos cá no verão com alguns amigos, alugámos uma casa e decidimos que este poderia ser um bom lugar para estabelecer uma base”, diz Zeitler.

Em 2016, abriu o primeiro espaço de coworking da cidade, Coworking Bansko. O empreendimento cresceu rapidamente e, em 2020, lançou a Festa Nómada de Bansko. Três anos depois, os 729 bilhetes disponíveis para o festival simplesmente esgotaram.

Atualmente, Bansko acolhe mais de 300 trabalhadores remotos em qualquer mês do ano — e o pico da população nómada ocorre durante a estação de esqui.

Passar a manhã nas encostas das montanhas e trabalhar à hora de almoço é certamente parte dos atrativos da cidade. Mas Bansko também tem outras vantagens.

Quando a neve derrete, as florestas, os lagos azul-turquesa e os picos acidentados do vizinho Parque Nacional de Pirin — património da UNESCO — oferecem diversas oportunidades de recreio ao ar livre, desde caminhadas a passeios a cavalo ou de bicicleta.

“O que realmente distingue a cidade de Bansko é como a comunidade é descontraída, amigável e acolhedora”, afirma a gestora de marketing francesa Camille Poire, que viaja para a cidade com o seu parceiro desde 2018.

“Relembramos isso todos os anos, quando regressamos de viagem e nos ligamos à vida social de Bansko”, conta.

A oferta de eventos sociais é desconcertante. Incluem aulas de salsa, jantares, jogos de tabuleiro, desportos, viagens às termas, concursos e churrascos. Muitos desses eventos são abertos para todos, sejam nómadas digitais ou não.

“Quando aparecem pela primeira vez, muitas pessoas dizem: ‘oh, é um pouco calmo demais. Não tenho a certeza se haverá algo para mim'”, conta Becky Bottjer, proprietária do espaço de coworking Altspace. Mas, “depois de dois ou três dias, estão a dizer ‘não quero mais sair, até preciso de um dia de descanso.”

“Os habitantes de Bansko gostam desta atmosfera internacional”, segundo a vice-presidente Sashka Vuchkova. Ela explica que o aumento do número de famílias estrangeiras e mistas na cidade (incluindo refugiados ucranianos) tem vindo a criar uma atmosfera multicultural nas escolas.

“Temos uma turma com alunos de oito países”, diz. “Todos falam búlgaro, alguns não tão bem. Mas são crianças e vão aprender.”

Nómadas digitais que adotaram a cidade estão a criar laços com a comunidade local. É o caso do empresário luso-colombiano José Fiallo, proprietário do centro cultural e café BanskoLab, que oferece aulas de línguas e oficinas educativas para crianças.

Claro que a comunidade estrangeira de Bansko inclui treinadores e gurus de bem-estar, que costumam participar no movimento dos nómadas digitais. Mas há também programadores, produtores de vídeo, humoristas, designers, professores de inglês, artistas, tradutores e até cientistas, representando dezenas de nacionalidades diferentes.

À medida que a população nómada aumenta, o ecossistema também se expande. Existem agora nove espaços de coworking na cidade, operados por quatro empresas. Variam desde o Coworking Bansko, alegre e focado nas interações sociais, até aos espaços de escritório operados pela Nestwork e à atmosfera de colónia de férias do Four Leaf CloverCoLive.

A Nestwork abriu recentemente um segundo espaço, bastante amplo, e é o mais novo espaço de coworking de Bansko.

Búlgaros também aderem à moda

Os profissionais de TI búlgaros Dimitar Durchov e Dimitar Vichev regressaram do estrangeiro para abrir o negócio, depois de descobrirem a necessidade de um espaço de coworking inteligente e com estilo corporativo — “um lugar acolhedor onde te sentes em casa, mas não tão em casa ao ponto de te distrair do trabalho”, segundo Vichev.

Explicam também que Bansko não atrai apenas nómadas digitais do estrangeiro. Os búlgaros também estão a aproveitar a cidade, mudando-se da capital, Sófia, ou até regressando do estrangeiro.

“Vivi em Londres com a minha família desde que tinha 12 anos e pensei que nunca voltaria a viver na Bulgária”, conta Vladimir Dimitrov, natural da Bulgária, que se mudou para Bansko há cinco anos.

Ele apercebeu-se que, ali, conseguiria conciliar o trabalho online com snowboard e ciclismo nas montanhas. “E, para além disso, o custo de vida era muito mais baixo, foi muito fácil tomar a decisão.”

O caso de Dimitrov ilustra uma tendência em crescimento. Alguns nómadas apreciam tanto o estilo de vida tranquilo de Bansko que estão a criar raízes na cidade.

Os imóveis são baratos pelos padrões ocidentais e os preços, embora estejam a aumentar, continuam acessíveis.

Um apartamento T1 custa entre 40 mil a 70 mil euros. Qualquer pessoa pode comprar um apartamento na Bulgária, embora só pessoas com residência permanente possam adquirir terras.

A renda mensal também é relativamente barata. Apartamentos T1 custam entre 300 a 500 euros.

Segundo a mediadora imobiliária Eli Tsoneva, da agência imobiliária local Plus Property, os nómadas representam cerca de 5% das vendas de imóveis em Bansko. Outros investidores estrangeiros dominam o mercado.

“Trinta por cento dos compradores da nossa agência imobiliária são búlgaros”, afirma ela.

Quanto a Matthias Zeitler, ele está à procura do seu próprio sonho: transformar um enorme hotel abandonado da era comunista no espaço residencial comum definitivo para os nómadas digitais na floresta próxima.

Com 200 apartamentos, um átrio com vários andares, piscina, auditório e vistas panorâmicas, o espaço comunitário Coliving Semkovo será “uma comunidade para a comunidade”.

O Coliving Semkovo será um espaço apenas para adultos, mas Becky Bottjer já observa uma tendência: “famílias nómadas digitais” estão a mudar-se para Bansko.

“Acho que será o próximo grande passo, especialmente com o custo de vida a aumentar em lugares como o Reino Unido e os EUA”, afirma ela.

Para Bottjer, depois de conhecerem a vida em Bansko, a tendência das pessoas é regressar à cidade.

“Existe uma espécie de magia por aqui”, conta ela. “Não sei o que é, mas as pessoas parecem estar sempre a regressar.”

// BBC

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