Cidade mexicana foi construída com donativos de emigrantes. Pode ir tudo pelos ares

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Morelia, na província de Michoacán, México

As políticas anti-imigração de Trump podem expulsar definitivamente os mexicanos do país. E isso está a preocupar uma pequena aldeia onde só se vive por causa dos emigrantes.

Nos últimos 30 anos, a pequena aldeia de Francisco Villa, no centro do México, onde a principal atividade é o cultivo de milho, esvaziou-se. Cerca de metade dos 3.000 habitantes mudou-se para os Estados Unidos, conta o The Washington Post.

Enquanto os migrantes iam para o norte, os dólares fluíam para o sul. Os trabalhos que fazem nos EUA, principalmente nos estados de Illinois, Califórnia e Oregon, vão desde a construção civil à jardinagem, cozinha ou babysitting.

Na aldeia, até os computadores da escola, bem como obras públicas, são financiadas pelos donativos destes emigrantes. Alguns só conseguiram pôr os filhos a estudar na universidade ou até mesmo construir uma casa devido às remessas que enviam para o sue país.

Agora, têm a sua vida perturbada por uma ameaça iminente: o recém-eleito Donald Trump, que promete levar a cabo “a maior operação de deportação da história americana”.

Um dos emigrantes da aldeia, Rubén Chávez, lançou para o ar a questão numa reunião no salão municipal: “Trump está a chegar com toda a força”, como é que podemos reagir como comunidade?”

O governo do México já está a criar 25 grandes abrigos na fronteira para receber deportados. Contratou centenas de advogados americanos para ajudar as pessoas que contestam a sua expulsão.

Está até a lançar uma aplicação para telemóvel com um “botão de alerta” que os migrantes podem premir — alertando o consulado mexicano mais próximo — quando são apanhados nas deportações.

Mas nesta aldeia o problema agrava-se: há emigrantes que estão nos EUA há 30 anos, e sustentam as famílias que ficam. “Se não pudermos recorrer a eles”, disse ela, “a vida aqui pode ser muito cruel”, diz Laura Alegria, habitante de Francisco Villa.

E o problema é comum a outras cidades mexicanas. O México recebeu cerca de 63 mil milhões de dólares (cerca de 61 mil milhões e euros) em remessas em 2023, mais do que o turismo ou as exportações de petróleo. O país ultrapassou a China e tornou-se  o segundo maior recetor de remessas do mundo, atrás da Índia.

Também na Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua, as remessas representaram entre 20 e 30% do rendimento nacional em 2023, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

“Esperamos que isso seja apenas um monte de palavras vindas de Donald Trump”, que tomará posse no dia 20 de janeiro, disse Andrea López Contreras, secretária de migração do estado mexicano de Michoacán, onde fica localizada Francisco Villa.

Trump chegou mesmo a dizer que não vai sequer poupar os filhos de imigrantes nos EUA que tenham já nascido no país. Gustavo Almanza, habitante de 78 anos de Francisco Villa, teme pelo seu neto, que está a estudar em Illinois para ser professor de matemática.

O rapaz entrou nos Estados Unidos há 19 anos, quando era um bebé. “O que é que lhe vai acontecer se for deportado?”, disse Almanza. “Ele nunca voltou cá.”

Que mudanças traz o novo mandato republicano para estas comunidades, não só mexicanas, mas um pouco por toda a América do Sul?

ZAP //

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