Humanos e animais abrigaram-se numa caverna de lava no deserto durante 10 mil anos

Green Arabia Project

Os investigadores encontraram evidências de ocupação humana na caverna de lava de Umm Jirsan

Um estudo inédito no noroeste da Arábia Saudita sugere que os seres humanos e o seu gado têm utilizado esporadicamente uma gruta para se abrigarem durante cerca de 10 000 anos. A descoberta oferece uma visão sobre a história e a ecologia da região.

Na última década, dados de satélite e descobertas de fósseis sugeriram que a Península Arábica nem sempre foi um deserto árido.

De acordo com os autores de um novo estudo, publicado esta quarta-feira na revista PLOS, os períodos em que a região tinha lagos e vegetação luxuriante podem ter atraído pessoas e animais de África para a região.

“Atualmente, é um ambiente bastante agreste”, afirma Mathew Stewart, zooarqueólogo da Universidade Griffith, em Brisbane, na Austrália, e primeiro autor do estudo.

Em toda a superfície da Arábia Saudita, “o registo fóssil é simplesmente horrível”, afirma Stewart. O vento e o calor abrasador reduzem ossos e artefactos a pó, tornando-os difíceis de estudar.

No entanto, num estudo publicado na revista Nature em 2018, Stewart e os seus colegas descreveram um osso de dedo com 88 mil anos encontrado no deserto da Arábia Saudita – um dos mais antigos fósseis humanos encontrados fora de África.

E num outro estudo, publicado em 2020 na revista Science Advances, a equipa do zooarqueólogo australiano descreveu também pegadas na margem de um lago com cerca de 120 000 anos.

Estes factos sugeriam que a região tinha histórias para contar.

Os investigadores voltaram-se então para as grutas sob Harrat Khaybar, uma vasta planície de basalto repleta de crateras vulcânicas no noroeste da Arábia Saudita. Estas grutas foram feitas pela lava que fluía dos vulcões próximos, formando túneis rochosos à medida que arrefecia.

Uma escavação à entrada de uma caverna permitiu aos investigadores encontrar mais de 600 ossos de animais e humanos e 44 fragmentos de ferramentas de pedra. As ferramentas de pedra mais antigas datam de há 10 000 anos e os fragmentos de ossos humanos mais antigos têm quase 7 000 anos.

Segundo a Nature, a distribuição das amostras sugere que as pessoas não viviam na gruta durante longos períodos, mas ficavam lá ocasionalmente.

A arte rupestre das proximidades retrata pessoas com cabras e ovelhas. Os desenhos são difíceis de datar, mas apoiam as provas fósseis de que as pessoas utilizavam a gruta como local de repouso e abrigo para os seus rebanhos.

“Ainda hoje, os agricultores procuram sombra e água nos tubos de lava subterrâneos para si e para os seus animais”, diz Stewart.

De acordo com Melissa Kennedy, arqueóloga da Universidade de Sidney, na Austrália, a descoberta sugere que os pastores percorreram Harrat Khaybar de oásis em oásis pelos mesmos caminhos durante milhares de anos.

Ao longo de Harrat Khaybar existem caminhos que se estendem por centenas de quilómetros, alguns ladeados por túmulos de pedra que datam de há cerca de 4500 anos.

Kennedy diz que os caminhos eram provavelmente usados ainda mais cedo do que a datação dos túmulos sugere. “As pessoas são muito preguiçosas“, diz Kennedy. “Encontram o caminho mais fácil e mantêm-se nele.”

ZAP //

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