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Um pequeno carro elétrico fez história. Há 25 anos, a GM deixou de o fabricar

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O EV1 da General Motors foi pioneiro na tecnologia que ainda hoje pode ser encontrada nos veículos eléctricos

O pequeno EV1, da General Motors, era um cruzamento de um disco voador com um rato de computador com charme de eletrodoméstico. O pioneiro veículo elétrico prometia lançar uma revolução, mas a sua produção foi cessada em 1999, com apenas mil unidades construídas.

Era o carro mais fiável que alguma vez tinha conduzido. É assim que Kris Trexler o recordava em 2010, numa entrevista na rádio Michigan Public.

“Era apenas um carro que eu levava para casa, ligava à noite e levantava-me na manhã seguinte. Era como ter uma bomba de gasolina na garagem“.

A 12 de maio e 1998, Trexler pegou no seu EV1 em Los Angeles, na Califórnia, e partiu para uma viagem de 5270 km através do país. Chegou a Detroit, no Michigan, a 2 de junho, sem ter gasto uma gota de gasolina.

Trexler, que documentou a viagem no seu site, foi uma das centenas de pessoas que tiveram a oportunidade de conduzir um General Motors EV1, o primeiro veículo elétrico moderno produzido em massa por um grande fabricante de automóveis.

O pequeno carro de duas portas parecia um cruzamento de um disco voador com um rato de computador, e foi pioneiro em tecnologias que ainda hoje podem ser encontradas nos veículos elétricos contemporâneos.

A GM construiu pouco mais de 1000 EV1s antes de terminar a sua produção, em 1999, dando origem a uma comunidade de super fãs apaixonados, ansiosos por se juntarem à revolução dos veículos elétricos.

Mas o EV1 foi controverso e teve uma vida curta. Esteve na estrada durante menos de uma década, e muitos norte-americanos nunca souberam que o EV1 existia.

E a luta para o manter vivo terminou quando a GM decidiu simplesmente enviar para a sucata quase todos os exemplares que ainda tinha em stock.

“Quando tudo aconteceu, ficámos ali parados e dissemos: O que é que vocês estão a fazer?”, disse em 2006 o cineasta e defensor dos veículos elétricos Chris Paine, numa entrevista à NPR sobre o seu documentário Who Killed the Electric Car? (“Quem matou o carro elétrico?”).

“Vê-los destruídos antes de a maioria das pessoas os ter experimentado foi realmente um momento chocante para nós”, contou o realizador.

As origens do EV1

A história do EV1 começou em 1990, ano em que a Califórnia aprovou regulamentos abrangentes com o objetivo de reduzir a poluição atmosférica do estado. O plano obrigava os fabricantes de automóveis a construir veículos com zero emissões.

“É uma estratégia muito radical, mas é uma estratégia que visa o próximo século”, disse na altura Brian Bilbray, membro da California Air Resources Board. “E vai realmente estabelecer o padrão para estratégias de qualidade do ar, não apenas neste estado ou nesta nação, mas no mundo”.

Sob pressão, os fabricantes de automóveis envolveram-se na pesquisa de veículos elétricos, híbridos e até células de combustível de hidrogénio para cumprir os novos regulamentos.

Em 1992, o repórter Paul Eisenstein, destacado pela NPR para verificar os primeiros resultados da iniciativa, viajou para o Arizona para testar um protótipo da GM chamado Impact.

“Quando se roda a chave, nada parece estar a acontecer — até se pisar o acelerador do Impact”, relatou Eisenstein. “Então, com um súbito balanço e um gemido assustador, o Impact ganha vida, e vemos o velocímetro a marcar 5, 20, 40, 60 km/h.”

Este era, na realidade, o protótipo que, em 1996, chegaria ao mercado como EV1. Tinha uma aceleração rápida, uma carroçaria aerodinâmica que cobria parcialmente os pneus traseiros e um sistema de travagem inovador que ajudava a recarregar a bateria.

“A travagem regenerativa funciona através da utilização dos motores, os motores de tração, em marcha-atrás, que funcionam como geradores“, explicava então Larry Oswald, engenheiro da GM.

“Por isso, quando se carrega no pedal do travão, o que se está a fazer é essencialmente gerar eletricidade e colocá-la de novo na bateria, armazenando-a para a próxima aceleração”, detalhou o engenheiro.

A bateria do EV1 tinha uma autonomia de cerca de 70 quilómetros com uma carga completa, mas a tecnologia das baterias melhorou ao longo dos 10 anos em que se manteve em produção, aumentando a autonomia para 160 quilómetros.

No entanto, o EV1 deu origem a uma nova preocupação dos consumidores:, que, décadas mais tarde, é a mesma: a “ansiedade de autonomia“.

É “o medo de ficar encalhado, de ficar sem energia“, disse Ron Conlin, investigador da Consumer Reports, à NPR em 1997. “A ansiedade do consumidor reflecte-se nos nossos estudos.”

O EV1 só estava disponível em alguns estados, e era bastante caro: o preço de retalho sugerido era de 35.000 dólares (custaria mais de 65.000 euros atualmente), mas nunca chegou a estar à venda — só estava disponível em aluguer.

“O carro está a ser comercializado para um consumidor de luxo — muito instruído, muito abastado, como potencialmente um terceiro veículo no agregado familiar“, disse Conlin.

Apenas cerca de 800 condutores alugaram um EV1, de acordo com um artigo da Associated Press em 2005. No entanto, os relatórios da GM indicam que milhares de outras pessoas colocaram o seu nome numa lista de espera.

Segundo o porta-voz da GM, Dave Barthmuss, a empresa contactou essas pessoas e descobriu que “menos de 50 clientes” da lista de espera estavam dispostos a alugar um veículo.

Muitos dos que tiveram a oportunidade de o alugar ficaram a adorar a forma como o EV1, com o seu carregamento na tomada e o seu charme de eletrodoméstico, os fez sentir “como se estivéssemos no século XXI“, nota Chris Paine.

Um pequeno carro com um grande legado

A GM gastou mais de mil milhões de dólares no desenvolvimento de veículos elétricos. Mas, com o passar do tempo, a Califórnia suavizou os regulamentos que obrigavam à construção de veículos com emissões zero.

O EV1 tornou-se um custo desnecessário. Os contratos de aluguer de três anos dos automóveis expiraram no início da década de 2000, a GM cancelou o programa e recuperou os seus EV1.

Vinte e cinco anos após o fim da produção do EV1, todos os grandes fabricantes de automóveis estão a construir veículos elétricos — incluindo a GM. Em outubro, a empresa afirmou que irá produzir cerca de 200 mil veículos elétricos este ano, e estabeleceu o objetivo de eliminar os veículos a gasolina até 2035.

Quanto ao EV1, alguns dos pequenos carros escaparam ao triturador. Em 2010, Kris Trexler, visitou o mesmo carro que outrora ligava para o carregar todas as noites. Estava numa nova casa: o Museu Automóvel Petersen, em Los Angeles.

De acordo com o museu, é um dos únicos quarenta EV1 ainda intactos.

Uau, isto traz-me recordações muito boas“, disse Trexler. “É simplesmente fantástico ver este carro de novo.”

ZAP // NPR

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1 Comment

  1. Quem teve o carro em sua posse naquela época acabou ir ser forçada a entregá-lo. Foi muito mau. A atriz Alexandra Paul, que era a morena das Mares Vivas (Baywatch), era acérrima defensora destes carros. A câmara municipal de Sacramento chegou a ter os carros para uso da autarquia e também foram recolhidos. Enfim, americanices…
    Caso queiram ver o documentário “Who killed the electric car”:
    https://vimeo.com/25450071

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