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Um dedal ou uma colher de pau podem ser suficientes para compor

O grupo português Galandum Galundaina mostrou esta sexta-feira, num dos ateliês para crianças do Festival Músicas do Mundo, em Sines, que, para criar sons e os organizar, numa composição, pode bastar um dedal ou uma colher de pau.

Os ateliês para crianças são já uma das imagens de marca do Festival Músicas do Mundo e esta manhã coube aos Galandum Galundaina, promotores do património musical das terras de Miranda do Douro, partilhar com os mais pequenos instrumentos e sons da tradição.

Afonso, de sete anos, é aprendiz de bateria há seis meses e toca com energia no pandeiro mirandês, enquanto vai ouvindo os Galandum Galundaina explicarem que aquele instrumento é feito de pele de cabrito. “É o filho da cabra”, concretizam os músicos, imaginando que haverá pequenos mais urbanos.

“Estes instrumentos fomos nós que fizemos, não os comprámos numa loja ou na internet”, esclarecem os músicos, contando que já os seus avôs os faziam da mesma maneira, o que não quer dizer que não recorram também às coisas modernas. Por exemplo, “o telemóvel tem uma vantagem muito grande, tem um afinador lá dentro”, destacam.

Festivais como o de Sines servem “para dar a conhecer outros instrumentos e as crianças e os adultos perceberem que existem milhentos instrumentos, milhentas formas de fazer música”, destacou Paulo Meirinhos, dos Galandum Galundaina, em entrevista à agência Lusa.

“O que nos entra pela casa dentro é aqueles instrumentos que toda a gente usa, a bateria, as guitarras, os teclados, e criou-se este corte geracional dos instrumentos antigos”, lamenta o músico, de rabel na mão.

Um dedal, uma colher de pau, talheres, conchas de vieira, há música nos objetos do quotidiano. E pode ser cantada noutra das línguas oficiais portuguesas, o mirandês, que os Galandum Galundaina fazem questão de preservar.

“Sinto que hoje é muito complicado estar a explicar alguns pormenores da construção dos instrumentos que nós fazemos às crianças, quando não sabem como é que um frango apareceu na prateleira do supermercado”, diz Paulo Meirinhos. “Eu acho que se perdeu a verdade”, considera, observando que os mais pequenos não sabem de onde vem “o que nos faz viver”, seja um frango ou a pele dos sapatos.

É também preciso explicar às crianças que não é fácil viver da música. Com a chegada da paternidade, um dos elementos dos Galandum Galundaina, cujo próximo trabalho deverá estar pronto no final do ano, foi obrigado a emigrar. “Foi-se embora a chorar, com pena por ter de deixar o grupo onde gostava de tocar, mas tinha de ter dinheiro para comprar as coisinhas para a bebé”, explicam.

As sessões infantis do Festival Músicas do Mundo já são um hábito anual para Ângela Carvalho, mãe de Afonso, que considera que esta iniciativa “abre horizontes às crianças”. Mas não só. “Nós, adultos, temos contacto com diferentes culturas, diferentes formas de fazer música, diferentes instrumentos, é muito, muito importante para eles e para nós”, observa.

Ângela quer aprender a tocar violino e leva o filho de sete anos aos concertos livres que abrem cada dia do festival, hoje da responsabilidade de Júlio Pereira (Castelo de Sines, 19:00). Um complemento à educação musical da escola pública, que “não é de qualidade”. As Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) incluem formação musical, mas “apenas para preencher espaço”, lamenta.

oito anos que o Festival Músicas do Mundo organiza em Sines ateliês entre músicos e crianças. Durante seis dias, sempre às onze da manhã, cerca de cem crianças ouvem falar de sons, experimentam instrumentos e fazem perguntas aos artistas.

/Lusa

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