Misterioso túnel forma um canal com a superbolha vizinha em Centaurus, onde se situa a Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol. Telescópio eRosita fornece “a visão de raios X mais limpa do céu até à data”.
Uma equipa de astrofísicos detetou um “túnel interestelar” que liga o nosso Sistema Solar a uma estrutura na constelação de Centauro, revelam novos dados do telescópio espacial eROSITA All-Sky Survey.
O misterioso túnel será um canal entre a Bolha Quente Local (LHB), uma área com 1.000 anos-luz de largura feita de gás quente e de baixa densidade que rodeia o Sistema Solar, e uma superbolha vizinha em Centaurus, onde se situa a Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol.
A LHB é conhecida há décadas e o seu estudo já ajudou a explicar a presença de raios X de baixa energia no ambiente espacial. Mas o recente mapeamento 3D desta bolha, levado a cabo por investigadores do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, revelou um padrão de pontos quentes e frios no interior da bolha, resultado de antigas explosões de supernovas.
Esta variabilidade de temperaturas permite-nos compreender como é que estes eventos ajudaram a moldar e a expandir a bolha.
O telescópio eROSITA, situado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, foi fundamental para a investigação, uma vez que a sua posição lhe permite observar o Espaço sem a interferência da geocoroa terrestre. Com base nos dados que este forneceu, os cientistas analisaram 2000 regiões do hemisfério da Via Láctea, contrastando a densidade da LHB com o gás das nuvens moleculares frias e densas nas suas extremidades, o que lhes permitiu criar o mapa tridimensional detalhado da bolha.
Os dados obtidos indicam que a LHB tem temperaturas desiguais entre o norte e o sul da Galáxia — o norte é relativamente mais frio. Além disso, o mapa revelou que a bolha se estende em direção aos polos do hemisfério galáctico. Mas a maior surpresa do estudo foi a deteção do que poderá ser um túnel interestelar para Centaurus, uma estrutura que gera vácuo no meio interestelar mais frio.
“Os dados divulgados este ano fornecem a visão de raios X mais limpa do céu até à data, tornando-o o instrumento perfeito para estudar o LHB”, diz Michael Yeung, investigador do Max Planck e principal autor do estudo publicado na Astronomy & Astrophysics no dia 5 de novembro.
Para além do LHB, os investigadores compilaram um censo de restos de supernovas, superbolhas e poeira interestelar, que integraram num modelo 3D interativo da vizinhança cósmica do sistema solar.
“Outro facto interessante é que o Sol deve ter entrado na LHB há alguns milhões de anos, um período muito curto comparado com a idade do Sol [4,6 mil milhões de anos]”, disse Gabriele Ponti, um dos autores do estudo: “é pura coincidência que o Sol pareça ocupar uma posição relativamente central na LHB à medida que nos movemos continuamente através da Via Láctea”, refere, em comunicado à Phys.org.
O túnel Centaurus pode assim fazer parte de uma rede de canais de gás quente que atravessam o frio espaço interestelar. Esta rede, segundo os cientistas, é mantida por ventos estelares e supernovas, num fenómeno conhecido como feedback estelar, que atravessa a Via Láctea e contribui para a sua forma estrutural.
São precisos mais estudos sobre a estrutura misteriosa. Por enquanto, é possível “navegar” nela no novo mapa interativo 3D, disponível aqui.