Encontrar o modelo certo para estudar o desenvolvimento humano tem sido um desafio para os cientistas nos últimos anos. Agora, uma equipa de bioengenharia da Universidade da Califórnia, em San Diego, encontrou um candidato incomum para as pesquisas: os teratomas
Teratomas – que significa “tumores monstruosos” em grego – são tumores compostos por diferentes tipos de tecidos. Estes formam-se quando uma massa de células estaminais se diferencia de maneira incontrolável, formando todos os tipos de tecidos encontrados no corpo. Agora, os investigadores da UC San Diego encontraram viram uma possibilidade de estudá-los como um modelo para o desenvolvimento humano.
Prashant Mali, professor de bioengenharia da Escola de Engenharia da UC San Diego, explica que “o teratoma não é apenas um tumor intrigante de se observar, mas também tem regiões de estruturas semelhantes a tecidos organizados. Isso levou-nos a explorar a sua utilidade em contextos de ciência e engenharia celular”.
Daniella McDonald, co-autora do estudo, revela que “não há outro modelo igual ao teratoma. Em apenas um tumor, é possível estudar linhagens e órgãos diferentes ao mesmo tempo”, a investigadora acrescenta ainda que “é um modelo vascularizado, tem uma estrutura tridimensional, e é um tecido humano específico, tornando-o o modelo ideal para recriar o contexto em que o desenvolvimento humano acontece.”
A equipa usou teratomas cultivados a partir de células humanas injetadas na pele de ratos imunodeficientes. Os investigadores conseguiram encontrar 20 tipos de células, ou “linhagens humanas” (cérebro, intestino, músculo, pele, entre outros) que estavam consistentemente presentes em todos os teratomas que analisaram.
Segundo o Phys, os especialistas usaram a tecnologia de edição de genes CRISPR-Cas9 para recolher e analisar genes conhecidos por regular o desenvolvimento. Desta forma, a equipa descobriu vários genes que desempenham papéis importantes no desenvolvimento humano.
“O que é notável neste estudo é que agora percebemos que podemos usar o teratoma para descobrir coisas de uma maneira muito mais rápida”, disse o co-autor Yan Wu. “Com outros modelos teríamos que executar muitas mais experiências para chegar aos mesmos resultados que chegamos”, sublinha.
“Os teratomas são um tipo único de tecido humano. Quando examinados através da lente do sequenciamento de uma única célula, podemos ver que contêm os principais tipos de células representativas do corpo humano. Assim, de repente temos uma plataforma extremamente poderosa para entender, manipular e projetar células e tecidos humanos de uma forma muito mais sofisticada do que era possível anteriormente “, diz no estudo.
Os investigadores também mostraram que podem “esculpir molecularmente” o teratoma para ser enriquecido no tecido neural. “Prevemos que este estudo estabeleça uma nova base. Outros cientistas deverão usar o teratoma como um modelo para futuras descobertas no desenvolvimento humano”, rematou McDonald.
O estudo foi publicado na revista Cell em novembro.