Foi a doença infeciosa que mais matou em 2022 a seguir à covid-19, com 7,5 milhões de casos registados. Em Portugal, a meta definida ainda está longe e “há muito a fazer”. “Continua a ser vista como uma doença que caracterizou o país no passado e que já não é assim. O que não é verdade”.
Sim, a tuberculose ainda existe. Não só existe como o número de casos bateu o recorde a nível mundial em 2022, atingindo os 7,5 milhões de casos, segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Olhando para Portugal, o país “ainda tem muito a fazer” para atingir as metas definidas pela OMS, para uma doença que outrora foi considerada “uma emergência mundial para a Saúde Pública”, diz ao Diário de Notícias a atual diretora do Programa Nacional para a doença, da Direção-Geral da Saúde, Isabel Carvalho.
A pneumologista lembra que Portugal é o país “que tem a incidência mais elevada na Europa Ocidental”, apesar de continuar com baixa incidência a nível mundial.
São 14 casos por cada 100 mil habitantes e a meta estabelece menos 8 a 10% dos casos atualmente registados. Ainda estamos nos 5%.
“No Vale do Sousa, no Norte, onde há os concelhos com maior incidência de TB, começámos a trabalhar com Organizações Não Governamentais, procurando dar mais literacia à população juntamente com outros cuidados e rastreios, para que a mensagem fosse mais facilmente percebida”.
Doença “ainda é estigmatizante”
“A tuberculose é uma doença que assusta as pessoas e que ainda é estigmatizante, mas continua a ser vista como uma doença que caracterizou o país no passado e que já não é assim. O que não é verdade”, lembra a especialista.
“É preciso que todos nós, população e profissionais, nos lembremos que a doença existe” e que quando há “uma tosse e uma febre persistentes, um emagrecimento anormal e um cansaço que não passa, pensar no diagnóstico de tuberculose”. Senão, os casos continuarão a ser “diagnosticados tardiamente”, sublinha.
“O diagnóstico precoce permite controlar a infeciosidade identificando mais rapidamente quem é que dentro dos conviventes do doente infetado precisa de tratamento preventivo, porque são estes que têm a grande probabilidade desenvolver a doença, e melhorar o prognóstico do próprio doente”, explica, sublinhando a importância da “prevenção ativa” — ir à procura de casos futuros.
O diagnóstico e o tratamento à doença são gratuitos e qualquer pessoa pode iniciar o processo através dos cuidados de saúde primários ou dos Centros de Pneumologia.
Só atrás da covid-19
“O número de novos casos bateu o recorde a nível mundial em 2022, desde que a OMS começou a monitorizar a doença, em 1995″, lê-se no último relatório da OMS, que destaca 7,5 milhões de casos espalhados por 192 países de um total de 215.
A seguir à covid-19, a tuberculose foi a doença infeciosa que mais matou em 2022, embora o número total de mortes tenha diminuído — 1,3 milhões, menos cem mil do que em 2021.
É esta doença, também, a principal causa de morte entre os pacientes com sida.
A maioria das pessoas que desenvolveram tuberculose (TB) em 2022 vivia nas regiões do Sudeste Asiático (46%), África (23%) e Pacífico Ocidental (18%), com proporções menores no Mediterrâneo Oriental (8,1%), nas Américas (3,1%) e na Europa (2,2%).
A redução cumulativa na taxa de incidência, entre 2015 e 2022, foi de 8,7%, e o marco da estratégia da OMS era de uma redução de 50% até 2025.