Criança morre atropelada pelo pai. Por que há tantas tragédias com tratores em Portugal?

Criança entrou em paragem cardiorespiratória numa quinta privada de Benavente, em Santarém. Acidentes com tratores são a principal causa de morte no trabalho agrícola — e a sinistralidade aumentou este ano.

Uma criança de 10 anos morreu após ter entrado em paragem cardiorespiratória este domingo, numa quinta privada de Benavente, em Santarém.

Foi a mais recente vítima de um trator agrícola em Portugal: o pai atropelou-a acidentalmente e tirou-lhe a vida ainda na localidade de Coutada Velha.

O caso deste fim de semana fugiu um pouco à regra. Os acidentes com tratores em Portugal ocorrem quase sempre da mesma forma: o veículo despista-se, capota e esmaga o condutor.

Em 2019, Portugal estava no top 3 de países europeus onde morrem mais pessoas em acidentes com tratores.

Em 2023, foram registados 602 acidentes rodoviários com veículos agrícolas que causaram 40 mortos, 65 feridos graves e 224 feridos ligeiros.

A sinistralidade aumentou este ano.

De volta ao primeiro semestre de 2024, os acidentes com tratores e máquinas agrícolas mataram pelo menos 32 pessoas — mais de cinco pessoas por mês, de acordo com a Guarda Nacional Republicana (GNR). Foram cerca de 300 acidentes no total, com destaque para os distritos de Bragança, Viseu e Leiria, onde há mais ocorrências.

Nos últimos três anos, segundo a GNR, registaram-se 1.757 acidentes de que resultaram 127 mortos e 205 feridos graves.

“Os acidentes com tratores assumem-se determinantemente como a principal causa de morte no trabalho agrícola”, disse o coordenador técnico da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri) à TVI 24. Mas a que se devem tantos acidentes trágicos?

Os próprios agricultores admitem que o fator humano é a principal causa dos acidentes e culpam nomeadamente a idade elevada dos condutores dos tratores.

“Mais de 50% dos acidentes com vítimas mortais surge com operadores do sexo masculino, com uma idade superior a 65 anos, com baixo nível de qualificações e sinais de fadiga acentuados”, diz Augusto Ferreira: “Portugal tem os agricultores mais velhos da União Europeia, cuja média de idades passou dos 63 anos em 2009 para os 65 anos em 2016″.

A falta de manutenção do próprio veículo e ausência de normas e estruturas de segurança fomentam o cenário perigoso.

“Aproximadamente 50% dos tratores têm mais de 20 anos. Ou seja, tratores para os quais ainda não existia a obrigatoriedade de possuírem estruturas de segurança anti capotamento”, explicava o responsável em 2019.

O cansaço dos condutores também é um dos culpados, além da inclinação dos terrenos e do nível de carga transportada.

“As características da atividade agrícola nacional são também elas um fator de risco acrescido, em particular pelas caraterísticas estruturais das explorações, que em grande parte do território são constituídas por parcelas com acentuado declive e uma reduzida dimensão”, acrescenta.

São “constrangimentos de dezenas de anos”, que têm vindo a ser colmatados com medidas como a obrigação, desde 2022, à formação específica para operar as máquinas.

Tomás Guimarães, ZAP //

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