Novo tratamento promete revolucionar a Medicina e criar órgãos de transplante universais

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University Health Network

Um tratamento com enzimas permite tornar os pulmões — independentemente do tipo sanguíneo do doador — compatíveis com todos os pacientes que precisem de um transplante.

Num novo estudo publicado na Science Translational Medicine, os cientistas conseguiram converter pulmões doados em órgãos de transplante universais, ou seja, não é preciso que o doador e o recetor sejam compatíveis e tenham o mesmo tipo sanguíneo.

A equipa fez experiências nos pulmões universais ex vivo num dispositivo de perfusão pulmonar que mantém os órgãos vivos fora do corpo. No próximo ano e meio, os autores querem testar estes pulmões em recetores humanos, avança o Live Science.

A tecnologia pode ajudar a reduzir o número de pulmões doados que são descartados por não haver um recetor compatível na proximidade, já que o tamanho do órgão e o tipo sanguíneo são os principais factores usados para fazer a correspondência entre o doador e o recetor.

Para além disto, esta inovação vai ajudar a reduzir a falta de doadores do tipo O, já que os pacientes com este tipo sanguíneo têm listas de espera maiores e um risco de morte 20% maior enquanto esperam por um transplante de pulmão, visto que não podem aceitar órgãos de doadores de outro tipo sanguíneo.

Apesar de só poderem receber órgãos de outras pessoas com o tipo O, quem tem este tipo sanguíneo pode doar a qualquer pessoa. Com estes órgãos universais a terem tanta procura, os doentes com este tipo sanguíneo acabam por ter uma maior mortalidade e estar mais tempo à espera.

Para tentar resolver este problema, Marcelo Cypel, diretor cirúrgico do Centro de Transplantes de Ajmera e professor na Universidade de Toronto, contactou Stephen Withers, um professor de bioquímica da Universidade de British Columbia.

O laboratório de Withers estava a trabalhar num método de remoção dos antigénios dos glóbulos vermelhos dos tipos A, B e AB, podendo assim transformá-las no tipo universal O. A equipa descobriu um grupo de enzimas nos intestinos em 2018 que conseguiam concluir este processo.

Os cientistas juntaram-se assim para tentarem aplicar esta descoberta aos transplantes de órgãos. No novo estudo, aplicaram as duas enzimas aos pulmões de doadores com o tipo A enquanto estes estavam a ser suportados no dispositivo de perfusão.

Ao aplicarem as enzimas durante quatro horas — o mesmo período de tempo que tipicamente os pulmões ficam no dispositivo antes de serem transplantados — 97% dos antigénios A foram eliminados.

A equipa fez ainda uma avaliação de segurança com três pares de pulmões do tipo A, tratando os do lado direito com as enzimas e deixando os do lado esquerda intactos. Depois das quatro horas, os cientistas perfundiram os órgãos com plasma tipo O, que tem anticorpos anti-A e anti-B, e registou as diferenças nas respostas, com um foco especial nos sinais de rejeição hiperaguda.

“Podemos ver que os pulmões que foram tratados com a enzima, comportaram-se perfeitamente bem, mas os pulmões que não foram tratados mostraram sinais de rejeição hiperaguda rapidamente”, revela Cypel.

Os cientistas querem agora começar os testes clínicos em pacientes humanos, mas há ainda algumas dúvidas. Por exemplo, depois do transplante, as células nos pulmões vão começar a produzir os antigénios no sangue mais uma vez, o que pode levar a que o sistema imunitário comece a atacar o órgão transplantado.

A equipa acredita que isso é pouco provável devido ao fenómeno da “acomodação“, que se refere à resistência que o órgão desenvolve contra ataques do sistema imunitário após os primeiros dias a seguir à cirurgia. Mesmo assim, os cientistas garantem que vão estar atentos a todos os sinais.

Para além deste avanço promissor nos transplantes de pulmão, este tratamento com as enzimas pode, no futuro, vir a ser usado noutros órgãos e também no sangue usado nas transfusões.

ZAP //

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