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Há um teste que mostra se as suas imagens mentais são mais vívidas do que as de outras pessoas

Sergey "Merlin" Katyshkin / Pexels

Já alguma vez se questionou sobre o quão vívidos são os seus pensamentos ou memórias comparando com os de outras pessoas? Há um teste online que, em menos de 10 minutos, avalia a “vivacidade” das nossas imagens mentais.

“Ganzflicker” é um teste online, que consiste numa imagem cintilante que alterna entre preto e vermelho, usado para criar estados de consciência alterados, sem efeitos duradouros para o cérebro.

O teste deve ser feito em full screen e qualquer pessoa com acesso a um computador (e uma divisão escura) pode experimenta-lo.

As experiências visuais começam praticamente no início.

Um novo estudo, publicado em junho na Science Direct, explica o porquê de algumas pessoas verem castelos ou fractais no Ganzflicker, enquanto outras não veem nada.

Tal como um ecrã de computador, a parte do nosso cérebro que processa a informação visual (o córtex visual) tem um “botão” de atualização que a ajuda a experienciar o ambiente que nos rodeia, tirando fotografias do mundo em rápida sucessão.

Os nossos olhos têm um ponto cego, também conhecido como escotoma — uma pequena área da retina que não contém recetores de luz —, mas não vemos uma mancha de escuridão. Isto porque o córtex visual usa a informação visual envolvente, de modo que o campo de visão pareça estar completo.

Se a informação sensorial a ser processada for o Ganzflicker, então o ponto cego irá interagir com os próprios ritmos do cérebro para alterar a forma como interpretamos o que estamos a ver.

O teste é conhecido por provocar pseudo-alucinações, mas como é que algumas pessoas veem pseudo-alucinações complexas, tais como “velhos castelos de pedra”?

O cérebro é composto por muitas regiões diferentes que interagem entre si, incluindo regiões sensoriais de “baixo nível” e regiões que correspondem a processos cognitivos de “alto nível”.

Descrever se uma linha é vertical ou horizontal, por exemplo, é considerado um processo sensorial de baixo nível, enquanto a perceção de um rosto amigável ou antipático é um processo cognitivo de alto nível (e mais aberto à interpretação).

A imagem mental visual, ou a simulação mental da informação sensorial (“olho da mente”), é um destes processos cognitivos de alto nível – que podem interagir com processos de baixo nível para moldar a interpretação do cérebro ao que está a ver.

Se alguém tem pseudo-alucinações simples no Ganzflicker, o seu cérebro pode automaticamente interpretar essa informação como mais significativa ou realista com a ajuda do “olho da mente”.

O que a maioria das pessoas não sabe é que o imaginário de cada um é diferente: algumas pessoas têm imagens que são tão vívidas como se estivesse a acontecer naquele momento; outras não conseguem sequer imaginar os rostos dos seus amigos ou família — esta condição chama-se afantasia, ou imaginação cega, e caracteriza-se pela incapacidade de visualizar voluntariamente imagens mentais.

A maioria das pessoas está, naturalmente, algures entre estes extremos.

O poder de Ganzflicker

É muito difícil descrever e comparar experiências do imaginário, uma vez que são acontecimentos privados, internos e subjetivos. Mas o Ganzflicker pode ajudar, escreve o Science Alert.

Investigadores descobriram que a capacidade de visualizar imagens mentais pode ser refletida na descrição individual de uma experiência de dez minutos com aquele teste online.

De acordo com o estudo, quase metade das pessoas com afantasia não vê absolutamente nada no Ganzflicker. A outra metade vê sobretudo padrões simples como formas geométricas ou cores ilusórias.

Já a maioria das pessoas que têm maior capacidade de visualizar imagens mentais vê objetos complexos, tais como animais e rostos. Alguns veem até ambientes pseudo-halucinógenos inteiros, como uma praia tempestuosa ou um castelo medieval.

Relativamente aos ritmos cerebrais, o artigo explica que é possível que as pessoas que veem imagens mais nítidas tenham naturalmente ritmos de baixa frequência no córtex visual — mais próximos da frequência de Ganzflicker —, o que as torna suscetíveis a ter pseudo-alucinações.

As pessoas com afantasia, por outro lado, têm ritmos de frequência naturalmente mais alta no córtex visual — o que pode amortecer efeitos do Ganzflicker.

Ganzflicker é uma ferramenta promissora para compreender as diferenças individuais na imagiologia mental e a sua interação com o ambiente visual. A experiência pode ajudar as pessoas a partilhar as suas experiências únicas umas com as outras.

ZAP //

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