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Tesouro da Idade do Bronze sugere que as mulheres podiam governar em El Argar

(dr) Arqueoecologia Social Mediterrània Research Group / Universitat Autònoma de Barcelona

O diadema encontrado na cabeça da mulher de La Almoloya, em Espanha

A sepultura de uma mulher que viveu e morreu há milhares de anos pode mudar a nossa perceção sobre uma das mais sofisticadas civilizações europeias da Idade do Bronze: El Argar.

A sepultura (um grande jarro de cerâmica) foi descoberta, em 2014, no sítio arqueológico La Almoloya, em Espanha. Foi encontrada debaixo daquilo que parece ser um salão de reuniões de um palácio, o que já mostrava sinais de riqueza, conta o site Science Alert.

“A falta geral de artefactos no chão, juntamente com a proeminência estrutural dos bancos, indica que poderiam ser realizadas nesta grande sala reuniões sociais de até 50 pessoas”, escreveram os investigadores no artigo publicado, a 11 de março, na revista científica Antiquity.

O jarro continha os restos mortais de duas pessoas: um homem, que terá morrido quando tinha entre 35 e 40 anos, e uma mulher, que teria entre 25 e 30 anos. A datação por radiocarbono mostrou que ambos morreram na mesma altura, por volta do ano 1730 A.C.

As análises genéticas, por sua vez, confirmaram que não eram parentes, mas os restos mortais encontrados não muito longe do seu túmulo pertenciam a uma pessoa que estava relacionada aos dois: uma filha.

O casal foi enterrado com 29 objetos, a maioria dos quais feitos de prata e que pareciam pertencer sobretudo à mulher: colares, pulseiras, um furador e potes de cerâmica.

(dr) Arqueoecologia Social Mediterrània Research Group / Universitat Autònoma de Barcelona

O jarro de cerâmica onde esta mulher foi enterrada

O homem também usava alguns destes ornamentos, mas foi o objeto que a mulher usava na cabeça que entusiasmou a equipa de investigadores: uma tiara de prata, ou diadema, com um disco que se estenderia até à testa ou ponta do nariz.

Segundo o mesmo site, este diadema é semelhante a outros quatro encontrados, no século XIX, em túmulos de mulheres ricamente decorados.

“A singularidade destes diademas é extraordinária. Eram objetos simbólicos feitos para estas mulheres, que as transformavam numa parte emblemática da classe dominante”, disse a arqueóloga Cristina Rihuete-Herrada, da Universidade Autónoma de Barcelona.

Análises anteriores propuseram que as mulheres enterradas nestas valiosas sepulturas eram soberanas ou esposas de soberanos. Embora ainda não seja possível dizer com certeza, a equipa acredita que, neste caso, as evidências apontam para a primeira opção.

“Na sociedade árgarica, as mulheres das classes dominantes eram enterradas com diademas, enquanto os homens eram enterrados com uma espada e uma adaga”, explicaram os investigadores.

“Os bens funerários enterrados com estes homens estavam sempre em menor quantidade e eram de menor qualidade. Como as espadas representam o instrumento mais eficaz para reforçar as decisões políticas, os homens dominantes de El Argar podem ter desempenhado um papel executivo, ainda que a legitimação ideológica e, talvez, a de governo, estivesse nas mãos de algumas mulheres”, acrescentaram ainda.

ZAP //

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