Ter filhos pode ser um incentivo à pobreza

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O aumento do custo de vida e as consequentes dificuldades financeiras vividas pelas famílias estão a fazer aumentar o número de crianças em risco de pobreza e exclusão social. Ter filhos é, agora, um incentivo à pobreza?

Portugal tem cada vez mais crianças em risco de pobreza e exclusão social.

De acordo com dados do Eurostat, detalhados pelo Jornal de Notícias, havia em 2023 cerca de 379 mil crianças em situação de carência económica – o que representa um agravamento de mais de 20% em relação à última década.

A pobreza infantil é, neste momento, um dos principais desafios das políticas públicas.

A privação material e social severa resulta, principalmente, do aumento do custo vida e consequentes dificuldades financeiras enfrentadas pelas famílias – principalmente as que têm filhos.

Ter filhos é um incentivo à pobreza?

No último ano, a taxa de risco de pobreza subiu dos 18,4% para os 19,3% em famílias com crianças. Além disso, verificou-se que quanto maior é o agregado mais alta é a taxa: 26,8% com três ou mais filhos, detalhou o JN.

À Antena 1, a economista Susana Peralta disse o problema da pobreza infantil deve ser tratado de uma perspetiva familiar, porque “num determinado agregado familiar ou toda a gente é pobre ou ninguém é pobre”.

Além disso, o desafio desta problemática estende-se ao facto de as crianças não trabalharem, mas de apenas gerarem despesa às famílias.

“As crianças consomem recursos, não geram recursos. Só geram despesa, por isso é que é um desafio tão difícil das políticas públicas”, explicou.

Pode, então, dizer-se que um criança é pobre?

Ao JN, Fátima Veiga, do departamento de investigação e projetos da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) diz que “há muitas crianças ao descoberto”, exemplificando com a falta “cobertura de creche e pré-escolar”.

“A primeira infância uma fase muito importante da vida das crianças, pode protegê-las da muitas lacunas que as famílias possam ter”, considerou a socióloga.

Susana Peralta explicou, na rádio pública, como, muitas vezes, nas famílias mais pobres se gera uma  bola de neve de pobreza.

A especialista deu o exemplo de, em alguns casos, os pais terem de abdicar da vida profissional para cuidar das crianças.

“Os adultos, principalmente as mães, muitas vezes, nem conseguem participar no mercado de trabalho a tempo inteiro e de fazerem horas extraordinárias, progredirem na carreira, ou seja, vários efeitos que levam ao aumento de rendimento das famílias que nas famílias com crianças são mais complicados”, lamentou a economista.

Tendo em conta a União Europeia, em 2023, havia 94,6 milhões de pessoas em risco de pobreza, dos quais 21% eram crianças. Em Portugal, há mais de dois milhões de pessoas nesta condição. 379 mil crianças.

Miguel Esteves, ZAP //

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